17.04.2013 Views

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte VI 967<br />

senhora? E se o ódio o fez desmontar <strong>da</strong> fi<strong>da</strong>lguia, como o amor não faria subir<br />

Fenisa à maior grandeza, sen<strong>do</strong> o amor, como diz Ovídio 987 , tão despreza<strong>do</strong>r<br />

<strong>da</strong>s majestades? É Fenisa por seus pais muito ilustre e por sua fermosura<br />

muito mais. Não pode queixar-se <strong>da</strong> natureza, porque tu<strong>do</strong> o melhor lhe deu,<br />

nem formar queixas <strong>da</strong> fortuna, porque se lhe negou nascer princesa, cuja<br />

soberania consiste em poderem a seus vassalos man<strong>da</strong>r e a nenhum monarca<br />

obedecer, privilégios em seus olhos tem Fenisa para que de quantos a viram<br />

se fazer amar e obedecer. Fiz-lhe presente por escritos esta vontade, este<br />

desvelo por vê-la, este padecimento por amá-la, porém nunca deu resposta,<br />

nem de palavra, quanto mais por pena; que mal podia tomar a pena para<br />

escrever, quem jamais conheceu penas que pudesse sentir.<br />

Impaciente meu desejo a ver-se tão despreza<strong>do</strong>, que como diz<br />

Quintiliano 988 é um desprezo duro flagelo para sofrer-se, rigoroso golpe para<br />

sentir-se, áspero castigo para aceitar-se, dei em passear de dia e de ron<strong>da</strong>r de<br />

noite as suas casas, consolan<strong>do</strong>-me com vê-las, pois a ela ver não podia;<br />

porém de sorte se retirou de poder de mim ser vista que, sen<strong>do</strong> as janelas de<br />

antes horizontes <strong>do</strong> sol, ficaram sen<strong>do</strong> crepúsculos nubla<strong>do</strong>s <strong>da</strong>s sombras para<br />

meus olhos mais escuras. Perseverou no esquivo e eu no constante, e não<br />

desmaiei no desdém porque quis morrer de firme. Fez com seus pais se<br />

mu<strong>da</strong>ssem para a quinta <strong>do</strong> Bom <strong>Porto</strong>, junto às ribeiras <strong>do</strong> rio Panaro; com as<br />

novas desta mu<strong>da</strong>nça deram novo assalto as sau<strong>da</strong>des, mostrei-me queixoso<br />

pelo padecimento que sentia e sau<strong>do</strong>so pelas finezas com que amava, sen<strong>do</strong><br />

ausências para os olhos mágoa e para o coração tormento. Fingi caça<strong>da</strong>s para<br />

ver se a via, e ocasionou-se um dia achar a ocasião que em tantos procurava,<br />

ven<strong>do</strong> de perto a quem me matou de longe. O susto de ver-me lhe aumentou a<br />

beleza, trocan<strong>do</strong> a neve mais cândi<strong>da</strong> na púrpura mais fina, de sorte que podia<br />

agradecer-se ao improviso <strong>do</strong> sobressalto que mostrava o duplicar os<br />

acidentes à beleza. Ouviu-me as palavras que lhe disse, chegan<strong>do</strong> a oferecer-<br />

me para ser seu esposo, que era o maior abono e o mais certo que podia<br />

afiançar minha vontade; porém foi a resposta tão equívoca que nem mostrava<br />

aceitar-me, nem despedir-me, disfarçan<strong>do</strong> com as intercadências de assusta<strong>da</strong><br />

Ovid., 2. Metam.<br />

Quint., Decl. 13.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!