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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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508 Padre Mateus Ribeiro<br />

soberano no senhorio, ten<strong>do</strong> muito que <strong>da</strong>r e na<strong>da</strong> que pedir, to<strong>do</strong>s de vós<br />

esperan<strong>do</strong> e vós de nenhum dependen<strong>do</strong>, ain<strong>da</strong> quan<strong>do</strong> vossa queixa se<br />

julgasse por erro, não se censuraria por delito? Pois a fim de não deixardes o<br />

muito que na vi<strong>da</strong> tínheis, vos descuidáveis <strong>da</strong>s vantagens e eternos bens que<br />

na outra vi<strong>da</strong> esperáveis. E sen<strong>do</strong> isto engano <strong>do</strong> desejo de logrardes as<br />

grandezas temporais, encobrirá o ser hoje vossa impaciência manifesto delírio<br />

<strong>da</strong> razão? Mas, pobre velho e desvali<strong>do</strong> no mun<strong>do</strong>, em que fun<strong>da</strong>is os desejos<br />

de quererdes ser imortal? Desampara<strong>do</strong> <strong>da</strong> natureza, ludíbrio <strong>da</strong> i<strong>da</strong>de,<br />

desengana<strong>do</strong> <strong>do</strong> tempo, no mun<strong>do</strong> sem valia, na pobreza o abatimento, falto<br />

<strong>da</strong>s forças, o corpo mortifica<strong>do</strong>, os brios perdi<strong>do</strong>s e ain<strong>da</strong> em esta<strong>do</strong> tão digno<br />

de compaixão quereis ser imortal? Oh cegueira grande! Que quan<strong>do</strong> por<br />

conveniência própria houvera de ser-vos a vi<strong>da</strong> enfa<strong>do</strong>sa, ain<strong>da</strong> vos mostrais<br />

tão pesaroso quan<strong>do</strong> imaginais que a tendes perdi<strong>da</strong>!<br />

Se esta precisa lei de morrer só se vira executa<strong>da</strong> nos pobres, nos<br />

desvali<strong>do</strong>s e despreza<strong>do</strong>s <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, ain<strong>da</strong> em certo mo<strong>do</strong> parece que pela<br />

desigual<strong>da</strong>de pudera admitir alguma razão de queixa sua execução. Mas que<br />

queixa pode <strong>da</strong>r-se de obedecer-se a uma lei de quem nem se isentam as<br />

supremas tiaras, as imperiais coroas, as majestades <strong>do</strong>s reis, as soberanias<br />

<strong>do</strong>s grandes, nem as riquezas <strong>do</strong>s mais poderosos <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>? Que sumo<br />

pontífice por mais santo, que empera<strong>do</strong>r <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> por mais temi<strong>do</strong>, que<br />

monarca, rei ou príncipe por mais soberano, que grande ou titular por mais<br />

vali<strong>do</strong> se isentou desta lei tão geral que a to<strong>do</strong>s executa? Que aproveitou a<br />

Nino o império <strong>do</strong>s assírios? A Ciro o <strong>do</strong>s persas e me<strong>do</strong>s? E a Júlio César o<br />

<strong>do</strong>s romanos? Assim eles, como to<strong>do</strong>s seus sucessores, acabaram as vi<strong>da</strong>s,<br />

uns de sua morte natural e muitos violentamente de mortais feri<strong>da</strong>s oprimi<strong>do</strong>s;<br />

e de to<strong>da</strong> sua grandeza apenas há vestígios <strong>do</strong> que eram e mal perseveram as<br />

memórias <strong>do</strong> que foram.<br />

Pois se ain<strong>da</strong> nas mais superiores opulências não houve remédio para<br />

não acabarem, porque a lei de terem fim é infalível, como vós, senhor Rogério,<br />

<strong>do</strong>s anos gasta<strong>do</strong>, <strong>do</strong> tempo consumi<strong>do</strong>, <strong>do</strong>s trabalhos e navegações<br />

derrota<strong>do</strong>, perdi<strong>do</strong>s os cabe<strong>da</strong>is porque tanto vos desvelastes na vi<strong>da</strong>, pobre<br />

no mun<strong>do</strong>, desvali<strong>do</strong> na terra, triunfo <strong>do</strong> tempo e despojos <strong>da</strong> i<strong>da</strong>de, queríeis<br />

ser singular em um decreto para to<strong>do</strong>s tão comum? Se fôreis bem discursa<strong>do</strong>,<br />

que em obrigação de vossos anos pudera ser que o fosseis, por mimo

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