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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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168 Padre Mateus Ribeiro<br />

empreendia o duque a invasão <strong>do</strong> ceptro, porém como discreto não avaliou por<br />

tão fácil a posse <strong>da</strong> coroa que se fiasse para tal empresa somente em seu<br />

grande valor e limita<strong>do</strong> poder. E assim, se bem suborna<strong>do</strong> <strong>da</strong> rara fermosura<br />

que com extremos amava, contu<strong>do</strong> provi<strong>do</strong> e acautela<strong>do</strong> <strong>do</strong> dificultoso<br />

empenho a que aspirava, tratou esta conjuração com o bispo de Roz, que por<br />

embaixa<strong>do</strong>r de Escócia assistia à rainha Isabel em Inglaterra, e juntamente<br />

com outros senhores e pessoas principais em quem achou disposição para seu<br />

intento.<br />

Nisto se não mostrou o duque muito prudente, pois comunicava esta<br />

conjuração a tantos e tão principais senhores, notifican<strong>do</strong>-lhes o fim dela, que<br />

era o casamento com a prisioneira rainha de Escócia, que o havia de ser de<br />

Inglaterra juntamente, com o pretexto de reduzir o reino à pureza <strong>da</strong> fé em que<br />

de antes estava, quan<strong>do</strong> mais florecia. E digo que não se mostrou muito<br />

prudente, pois manifestava os amantes intentos de casar-se e coroar-se a<br />

quem pudera invejar esta imagina<strong>da</strong> ventura e descobrir a conjuração, somente<br />

por não verem entroniza<strong>do</strong> a quem por igual reconheciam; exemplo que no<br />

senhor de Arli, esposo <strong>da</strong> mesma rainha, como temos visto, manifestou o rigor<br />

<strong>da</strong> morte que lhe deram invejosos de sua ventura, que (como escreve Plínio)<br />

nunca a inveja se dá, senão nos que inferiores se consideram. De Platão refere<br />

Pedro Blesense que perguntan<strong>do</strong> um dia a Sócrates, seu mestre, que faria<br />

para não ser inveja<strong>do</strong>, ele lhe respondera, não por conselho, mas por<br />

sentença, que o remédio era ser semelhante a Tersites, um homem sem fama<br />

alguma, nem obra louvável ou generosa de que ocasionar-se inveja pudesse;<br />

sen<strong>do</strong> esta (como disse Eusébio, referi<strong>do</strong> por Stobeo) sombra que<br />

perpetuamente segue o corpo, a quem a luz de alguma maioria ou melhora<strong>da</strong><br />

sorte acompanha: e deu disto a entender o sábio mestre que era impossível<br />

escapar de inveja<strong>do</strong> neste mun<strong>do</strong> quem ou fizesse obras de valeroso, ou<br />

alcançasse felici<strong>da</strong>des de venturoso.<br />

Porém os sabe<strong>do</strong>res <strong>da</strong> conjuração, leva<strong>do</strong>s <strong>do</strong> bem comum que<br />

pretendiam e juntamente de seus particulares intentos, quais eram as melhoras<br />

e acrecentamentos de esta<strong>do</strong>s que lhes prometiam, consentiram nela<br />

sustentan<strong>do</strong> o segre<strong>do</strong> e palavra mais <strong>do</strong> que prometer-se podia. Determinava<br />

o duque ajuntar a gente de seus esta<strong>do</strong>s com a de Escócia e de outros<br />

senhores católicos <strong>da</strong>quele reino, ten<strong>do</strong> por certo que assim o sumo pontífice

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