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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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Alívio de tristes e consolação de queixosos- Parte III 389<br />

<strong>da</strong> paz <strong>do</strong> descanso à guerra <strong>do</strong>s cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s e <strong>do</strong> viver na pátria a viver hoje<br />

dela desterra<strong>do</strong>.<br />

Sucedeu que entre os vários lugares e povoações que enobrecem o<br />

território de Ferrara, caminhan<strong>do</strong> pela ribeira <strong>do</strong> rio até <strong>do</strong>nde entra no mar a<br />

pagar-lhe o tributo que como vassalo lhe deve <strong>do</strong> mais cau<strong>da</strong>loso de suas<br />

águas, um <strong>do</strong>s lugares mais conheci<strong>do</strong>s é o de Fossa, pelo ser assim no<br />

número de seus mora<strong>do</strong>res e fertili<strong>da</strong>de <strong>do</strong> terreno, como por ficar mais vizinho<br />

ao mar, em que o rio como em sepulcro de cristal se esconde. A este lugar<br />

costumava eu ir algumas vezes com outros amigos, assim a divertir-me no<br />

exercício <strong>da</strong> caça como na pescaria <strong>do</strong> rio, lisonjea<strong>do</strong> <strong>do</strong> gosto que recebia<br />

com a vista <strong>do</strong> mar, que sempre a quem o vê <strong>da</strong> terra é agradável. Sucedeu<br />

pois que junto a uma fonte que no ameno de um bosque nascia, tão desejosa<br />

de ver os resplan<strong>do</strong>res <strong>do</strong> sol que desejava subir <strong>do</strong> vale às serras para<br />

participar em descoberto o mais brilhante de suas luzes, que ao tempo <strong>da</strong><br />

sesta visse assenta<strong>da</strong> uma moça em traje lavra<strong>do</strong>ra, por quem discretamente<br />

podiam deixar-se os povoa<strong>do</strong>s para assistir em seus campos o pequeno arroio<br />

que <strong>da</strong> fonte corria para vê-la, que cousas de admiração fazem hidrópico o<br />

desejo para não satisfazer-se.<br />

Era seu rosto desluzimento <strong>da</strong> Primavera quan<strong>do</strong> mais flori<strong>da</strong>, que o<br />

neva<strong>do</strong> <strong>da</strong>s açucenas e a encarna<strong>da</strong> púrpura <strong>da</strong> rosa mais viva parece se<br />

achava nela que nos pra<strong>do</strong>s. Não pareça o encarecimento lisonja de rendi<strong>do</strong>,<br />

porque era tal o sujeito de Amatilde que os melhores juízos em louvá-la podiam<br />

graduar-se de discretos, sem a censura de parecer em que aspiravam ao<br />

valimento de excessivos. Sobre as esmeral<strong>da</strong>s de seus olhos fiarem-se os<br />

corações, parece que não era exceder o preço <strong>do</strong> que se <strong>da</strong>va, se fora a<br />

firmeza <strong>da</strong>s pren<strong>da</strong>s que se recebiam, pois as pren<strong>da</strong>s que no melhor podem<br />

negar-se tem muito valor para estima<strong>da</strong>s, trazem grandes cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s para<br />

possuí<strong>da</strong>s. Era Amatilde mimo singular <strong>da</strong> natureza, anima<strong>da</strong> tirania <strong>do</strong> amor,<br />

registo <strong>da</strong>s vontades, imperioso senhorio <strong>do</strong>s corações para cuja vista se vestia<br />

a admiração de novo espanto, pois quanto mais a via, maiores encómios lhe<br />

oferecia o discurso, maiores sujeições lhe rendia a vontade.<br />

Bem sei, senhores, que avaliareis por exagerações o dilata<strong>do</strong> com que<br />

encareci a beleza de Amatilde, mas quan<strong>do</strong> pelo discurso de minha história<br />

ouvirdes os efeitos que dela resultaram, ain<strong>da</strong> sem a verdes julgareis que me

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