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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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514 Padre Mateus Ribeiro<br />

memória recreio. Aqui nem há noite que moleste, nem pena que aflija, nem<br />

temor que inquiete, nem inveja que ofen<strong>da</strong>, nem desvelo que oprima, nem<br />

paixão que atormente, nem ambição que sobressalte, nem finalmente<br />

penali<strong>da</strong>de ou sentimento algum que sirva ou de eclipse às alegrias ou de<br />

desaire aos receios.<br />

Tu<strong>do</strong> neste venturoso esta<strong>do</strong> é perpétuo e sereno dia, eterniza<strong>da</strong><br />

Primavera, flores que não se murcham, verduras que não se secam, fontes de<br />

eterna vi<strong>da</strong>, rio perene de delícias que alegra com sua vista em cristalina e<br />

luzi<strong>da</strong> corrente a Ci<strong>da</strong>de <strong>da</strong> Glória, tu<strong>do</strong> músicas suavíssimas em alterna<strong>do</strong>s<br />

coros, em que eleva<strong>do</strong>s os senti<strong>do</strong>s, mais no divino amor se esforçam os<br />

afectos em amar aquele sumo bem que de to<strong>do</strong>s os cânticos, hinos e louvores<br />

é sumamente digno. Ali ca<strong>da</strong> um <strong>do</strong>s bem-aventura<strong>do</strong>s, <strong>da</strong> glória que os outros<br />

logram, novo gosto e acidental glória recebe, sen<strong>do</strong> sem número de seus<br />

contentamentos os gostos acidentais que logram. Porque o perfeito vínculo <strong>do</strong><br />

amor com que em Deus estão uni<strong>do</strong>s faz festejar como próprios to<strong>do</strong>s os bens<br />

e gostos alheios. E com serem os bem-aventura<strong>do</strong>s tão diferentes nos esta<strong>do</strong>s,<br />

nos merecimentos e nos prémios, como ensina o padre Santo Agostinho 503 ,<br />

não pode <strong>da</strong>r-se inveja, senão amor grande: assim porque <strong>da</strong> visão beatifica<br />

que é a glória essencial participam to<strong>do</strong>s, ca<strong>da</strong> um conforme a capaci<strong>da</strong>de de<br />

seu merecimento, como se no mun<strong>do</strong> a uma mesa to<strong>do</strong>s comessem de um<br />

manjar preciosíssimo e bebessem de um licor suavíssimo conforme o<br />

estamago de ca<strong>da</strong> um receber pudesse, não teria inveja o que menos comesse<br />

ou bebesse, pois comeu e bebeu quanto o seu estamago pedia, <strong>do</strong> outro que<br />

comesse ou bebesse mais, pois tinha o estamago mais capaz, sen<strong>do</strong> o<br />

precioso <strong>do</strong> manjar e o suave <strong>do</strong> licor para to<strong>do</strong>s o mesmo. Nem é possível<br />

haver inveja de outros terem maior glória, pois vem evidentissimamente em<br />

Deus igualíssima balança de sua infinita justiça com que reparte a glória ao<br />

peso certíssimo <strong>do</strong>s merecimentos. Nem é possível <strong>da</strong>r-se inveja porque a<br />

cari<strong>da</strong>de e grandeza <strong>do</strong> amor com que em Deus os bem-aventura<strong>do</strong>s estão<br />

uni<strong>do</strong>s não só exclui to<strong>do</strong> o dissabor de inveja e ambição, mas como<br />

ver<strong>da</strong>deiros irmãos, filhos <strong>do</strong> mesmo Eterno Pai, se alegram to<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s bens<br />

que os outros possuem e <strong>da</strong>s glórias que eternamente logram.<br />

Santo Aug.

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