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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte IV 669<br />

poderoso quem teve o valimento em minha vontade, e será malograres as<br />

diligências empenhar-te em procurar o que é impossível poder-se conseguir.<br />

Admira<strong>do</strong> ficou Sultão Ali <strong>do</strong> resoluto desengano de Zelin<strong>da</strong>. Mu<strong>do</strong>u mil<br />

vezes as cores <strong>do</strong> rosto, já em páli<strong>da</strong>s com o sobressalto, já em cora<strong>da</strong>s com a<br />

paixão; os pulsos palpitantes, o alento apressa<strong>do</strong>, os senti<strong>do</strong>s confusos <strong>da</strong><br />

caí<strong>da</strong> precipita<strong>da</strong> de suas malogra<strong>da</strong>s esperanças, não caben<strong>do</strong> no breve<br />

<strong>do</strong>micílio de seu peito a inun<strong>da</strong>ção de suas mágoas, quan<strong>do</strong> via irem<br />

derrota<strong>do</strong>s de monte a monte seus desejos, sua confiança perdi<strong>da</strong> e seu<br />

grande amor tão mal premia<strong>do</strong>. Porém, como era discreto, cobran<strong>do</strong> ânimo <strong>do</strong>s<br />

próprios desmaios <strong>da</strong> ventura, pon<strong>do</strong> os olhos em sua ingrata Zelin<strong>da</strong>, lhe<br />

respondeu assim:<br />

- Não duvi<strong>do</strong>, cruel Zelin<strong>da</strong>, que à vista <strong>do</strong>s desenganos que me deste e<br />

<strong>do</strong>s rigores com que me tratas, te persua<strong>da</strong>s que desista meu desejo de<br />

pretender-te e meu ofendi<strong>do</strong> coração de amar-te; pois sen<strong>do</strong> as esperanças<br />

vi<strong>da</strong> <strong>do</strong> querer, mal pode este viver quan<strong>do</strong> elas faltam. Pois sabe que vives<br />

engana<strong>da</strong>, se o imaginas; porque toma meu coração novos motivos de amar-te<br />

<strong>do</strong>s mesmos que me dás para aborrecer-te. Estimara eu nesta ocasião poder<br />

querer-te menos, só para poder subir meu amor a querer-te mais. Mas tem<br />

chega<strong>do</strong> meu amor a tão extremoso que assim como não pode subir a mais,<br />

assim não é possível baixar a menos. São os desenganos no princípio de amar<br />

remédios, porém agora venenos; porque se antes puderam fazer-me adverti<strong>do</strong>,<br />

hoje me conduzem a desespera<strong>do</strong>, ven<strong>do</strong> juntamente impossível o retiro e<br />

inacessível a esperança. Dizes-me que amas a outro. Não o creio; que como<br />

tens o coração de diamante, logras a estimação na dureza. E não me persua<strong>do</strong><br />

que pudesse outro abran<strong>da</strong>r a quem não demoveu tanto querer.<br />

Dous extremos fez em ti a natureza: um de fermosura e outro de<br />

cruel<strong>da</strong>de; e se algum destes declinasse, deixarias de ser em tu<strong>do</strong> extremo.<br />

Afirmas que tens amor: não me persua<strong>do</strong> que haja sujeito tão venturoso;<br />

porque ventura e merecimento raramente em um sujeito se unem. Donde infiro<br />

que quan<strong>do</strong> fosse ver<strong>da</strong>de que o amavas, seria quem menos ama<strong>do</strong><br />

merecesse, e em tua própria eleição terias teu castigo. Que é o flagelo de uma<br />

eleição desacerta<strong>da</strong>, o deixá-la na pena de seu mau gosto. Dizes-me que não<br />

hás-de mu<strong>da</strong>r-te deste amor primeiro. Bem conheço que não te mu<strong>da</strong>rás pelo<br />

que tens de dura, mas não pelo que tens de amante. Pois assegurar as

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