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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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904 Padre Mateus Ribeiro<br />

grandes para Frederico assistir, que se a<strong>do</strong>rnaram com custosas armações e<br />

ricas tapeçarias que trazia; eram os cria<strong>do</strong>s muitos e as cria<strong>da</strong>s e aias que a<br />

Fenisa e sua mãe serviam em número igual, com que se ostentou em Bolonha<br />

uma casa em tu<strong>do</strong> ilustre, rica e grandiosa. A primeira vez que Fenisa<br />

apareceu em público, sain<strong>do</strong> com sua mãe a ver uma festa grande que em<br />

Bolonha se fazia, deu sua vista assunto às admirações, desvelos aos juízos e<br />

assaltos poderosos às vontades, pois quantos se empenharam em vê-la se<br />

desvelaram em amá-la. Divulgou a fama os encómios <strong>da</strong> fermosura, laureou a<br />

beleza, encareceu o <strong>do</strong>naire, ampliou a discrição, aplaudiu os brios, exagerou a<br />

gravi<strong>da</strong>de e finalmente ficaram sen<strong>do</strong> os hipérboles mais subi<strong>do</strong>s de seus<br />

louvores prelúdios que se dedicavam ao que merecia, proémios que<br />

começavam a dizer e nunca terminavam o muito que desejavam louvar sua<br />

beleza.<br />

Empenhavam-se <strong>da</strong> universi<strong>da</strong>de os juízos mais sublimes, os engenhos<br />

mais cultos, as musas mais eleva<strong>da</strong>s na subtileza <strong>do</strong> verso em celebrarem com<br />

poemas este novo assombro que a Bolonha viera para <strong>da</strong>r assunto às<br />

eloquências nos louvores, às mulheres assombroso eclipse com sua vista, pois<br />

na presença <strong>do</strong> sol não presume luzir alguma estrela aos ilustres os mais vivos<br />

cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s e aos inferiores o mais insólito espanto. Vi eu a Fenisa nesta primeira<br />

vista e nas que possível me foi vê-la, e confesso que a amei com tantas veras<br />

que só então conheci o que era o amor, porque até essa hora só por fama o<br />

conhecia. Vi a Fenisa e julguei que não tinham meus olhos mais que ver: fora<br />

de sua esfera, na<strong>da</strong> sem grande violência se move; foi a vista de Fenisa para<br />

meus olhos a mais luzi<strong>da</strong> esfera, e assim na<strong>da</strong> podiam ver que os agra<strong>da</strong>sse,<br />

porque só em sua vista ficavam satisfeitos.<br />

- Porventura, Lisar<strong>do</strong>, (dizia eu) não fostes até agora livre? Não eras<br />

isento no querer e potenta<strong>do</strong> soberano de tua própria vontade? Pois que<br />

cativeiro é este? Que prisões te detêm? Que cadeias te prendem? Que Argel te<br />

oprime? Não reparas em que é devaneio aproxima<strong>do</strong> à loucura emprender<br />

impossíveis que estão contradizen<strong>do</strong> o coração? Pretendes como ignorante<br />

mariposa morrer ao cutelo <strong>da</strong>s luzes, quan<strong>do</strong> os que nasceram com maiores<br />

asas param no voo por não se avizinharem ao perigo?<br />

O ser gigante no amar não engrandece, nem habilita as limitações <strong>do</strong><br />

próprio ser; porque o amar tem seu princípio na vontade que pode mu<strong>da</strong>r-se,

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