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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte II 319<br />

Acompanha<strong>do</strong> de <strong>do</strong>us cria<strong>do</strong>s e provi<strong>do</strong>s de pistolas nos coldres,<br />

montámos eu e Dom Sancho a cavalo, a horas em que o sol em berço de rubis<br />

vinha nascen<strong>do</strong>, que com ser decrépito nos anos, to<strong>do</strong>s os dias nasce, pois<br />

como Fénix morre abrasa<strong>do</strong> em seus próprios resplan<strong>do</strong>res. íamos pratican<strong>do</strong><br />

em que muitas vezes os que nos parecem trabalhos são favores que Deus nos<br />

faz, sem nós os conhecermos. Pois se nos não perdêramos no caminho com a<br />

névoa, quan<strong>do</strong> de Nápoles fugimos, e nos prendessem os ban<strong>do</strong>leiros de<br />

Frederico, que nos pareceu então a maior desgraça, mal poderíamos escapar<br />

<strong>da</strong> tropa que em nosso seguimento, por ordem <strong>do</strong> vice-rei, com to<strong>da</strong> a pressa<br />

vinha. E em errarmos a estra<strong>da</strong> esteve o acerto <strong>da</strong> ventura. Ninguém se<br />

desconsole quan<strong>do</strong> se vê perdi<strong>do</strong>, pois talvez com essa perseguição evita<br />

outros riscos maiores. Quantos com o cativeiro asseguravam as vi<strong>da</strong>s que<br />

depois ven<strong>do</strong>-se na liber<strong>da</strong>de perderam! E a quantos o desterro <strong>da</strong> pátria subiu<br />

às digni<strong>da</strong>des maiores, que viven<strong>do</strong> aonde nasceram nunca alcançariam!<br />

Quanto melhor fora ao insigne ora<strong>do</strong>r Marco Túlio morrer desterra<strong>do</strong> em<br />

Grécia, para onde se partiu com as lágrimas nos olhos quan<strong>do</strong> seus émulos o<br />

perseguiram, <strong>do</strong> que voltar a Roma para deixar a cabeça nos fios <strong>da</strong> espa<strong>da</strong> <strong>do</strong><br />

ingrato Popílio Lenas! Para quem to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong> é pátria universal, nenhuma<br />

terra é desterro. Se o empera<strong>do</strong>r Severo não deixara a África, Filipe a Arábia,<br />

Trajano a Espanha, Saturnino a França e Proculeio a Ligúria, nenhum deles<br />

subira a ser senhor <strong>do</strong> império romano. São as pátrias émulas <strong>do</strong>s<br />

merecimentos; ser venturoso em sua pátria é ventura <strong>do</strong>bra<strong>da</strong>. Lembram mais<br />

nelas as humil<strong>da</strong>des <strong>da</strong> criação <strong>do</strong> que os aumentos <strong>do</strong> merecer. Aonde se<br />

viram o tosco <strong>da</strong>s raízes, nunca se aplaude a árvore, por mais que se vista de<br />

flores ou se enriqueça de frutos.<br />

- Assim é (disse Dom Sancho), que sempre as terras estranhas<br />

guar<strong>da</strong>m maior decoro aos forasteiros, porque os acham fora <strong>do</strong>s rudimentos e<br />

tirocínios <strong>da</strong> infância e com os acertos e corteses procedimentos <strong>da</strong> i<strong>da</strong>de<br />

varonil. O que não é nas pátrias, aonde o superior o despreza porque o viu tão<br />

pequeno, o igual o inveja porque o vê luzi<strong>do</strong>, o humilde o aborrece porque lhe<br />

parece que aspira a ser grande. Por isso não se aventura à grandezas, porque<br />

o maior, o menor e o igual to<strong>do</strong>s o oprimem: uns porque os não iguale, outros<br />

porque os não prefira e outros porque os não <strong>do</strong>mine. Nas terras alheias, como

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