17.04.2013 Views

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte V 859<br />

lhe procurava. Era seu caviloso intento neste tempo de nossa ausência<br />

efectuar seu engano. Não se enganam os homens, diz Aristóteles 819 , senão<br />

naquilo que ignoram, porque no que conhecem não cabe engano. Mais astuto<br />

é, disse Demóstenes 820 , o que engana <strong>do</strong> que o engana<strong>do</strong>, porque este não<br />

prevê a malícia que não professa, e assi não pode rebater os golpes que não<br />

alcança. Sempre os enganos, diz Séneca 821 , vem disfarça<strong>do</strong>s com coberta<br />

diferente <strong>do</strong> que são para não serem conheci<strong>do</strong>s bem, assi como o farpante<br />

anzol se encobre com a isca para que o peixe incauto o apeteça, porque a<br />

conhecê-lo não o tragara. É a dissimulação, disse Cícero 822 , a cousa mais<br />

perniciosa <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, poden<strong>do</strong> mal descifrar-se o interior que não deixa construir-<br />

se. Debaixo <strong>da</strong> amizade matou Perpena ao lusitano Viriato, induzi<strong>do</strong> a cometer<br />

tal traição pelo procônsul Servílio Cepião. Debaixo <strong>da</strong> amizade, convi<strong>da</strong>n<strong>do</strong><br />

Teo<strong>do</strong>ro, príncipe de Epiro, ao empera<strong>do</strong>r de Constantinopla Pedro<br />

Antestarense a que fosse seu hóspede, navegan<strong>do</strong> de Roma para<br />

Constantinopla aleivosamente lhe tirou a vi<strong>da</strong>. A Alexandre de Médices, duque<br />

de Florença, deu morte aleivosamente seu parente, vali<strong>do</strong> e maior amigo<br />

Lourenço de Médices, confian<strong>do</strong>-se o duque de sua amizade na ocasião <strong>da</strong><br />

mais sincera demonstração de fideli<strong>da</strong>de. Aonde se pode achar confiança,<br />

quan<strong>do</strong> esta na amizade se não acha? O Séneca 823 diz que tem parelhas o<br />

erro de confiar-se de to<strong>do</strong>s com o mostrar-se de to<strong>do</strong>s desconfia<strong>do</strong>; porque o<br />

primeiro será expor-se a perigo de ser engana<strong>do</strong> e o segun<strong>do</strong> expor-se ao risco<br />

de não ter algum amigo: e o viver de to<strong>do</strong> despoja<strong>do</strong> de amigos é o mesmo,<br />

moran<strong>do</strong> em povoa<strong>do</strong>, que viver no deserto. Bem disse Salústio 824 que os<br />

desgraça<strong>do</strong>s nunca tem amigos, porque sen<strong>do</strong> os leais o maior bem, estes lhe<br />

não permite possuir a ventura.<br />

Disse eu a Camilo, que pois ele se achava indisposto para acompanhar-<br />

me, que man<strong>da</strong>ria escusar-me de ir ver as festas de Módena; o que ele em<br />

nenhum mo<strong>do</strong> concedeu, antes instan<strong>do</strong> que pois eu e meu pai éramos<br />

819 Ar., El. 2.<br />

820 Dem., Exor. 54.<br />

821 Sen., Ep. 7.<br />

822 Cie, 3. Of.<br />

823 Sen., Ep. 3.<br />

824 Sal., in Conj. Cat.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!