17.04.2013 Views

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte VI 1065<br />

um alvedrio tão livre. Porém seguirei o dito de Tito Lívio 1188 que ninguém chega<br />

a aconselhar melhor <strong>do</strong> que quem aconselha o que ele próprio em semelhante<br />

<strong>caso</strong> fizera. Perguntais o como vos havereis neste empenho <strong>do</strong> casamento de<br />

Fenisa a que aspirais: de vós conheço eu bem os desvelos com que a amais,<br />

porém dela ignoro se desse querer se dá por obriga<strong>da</strong> para se mostrar<br />

agradeci<strong>da</strong>. Vai grande distância de amar a ser ama<strong>do</strong>, porque o coração<br />

alheio não nos é com certeza conheci<strong>do</strong>. Até agora não tendes certeza <strong>da</strong><br />

vontade de Fenisa, porque talvez alguma afabili<strong>da</strong>de que mostra, podem ser<br />

efeitos ou de agradecimento, ou de cortesia. O intentardes pedi-la por esposa<br />

sem terdes dela certeza de que é contente é aventurar-vos a navegar sem<br />

agulha de marear ou roteiros que vos guiem. Se é certo que ela vos ama, não<br />

encontrará que a peçais por esposa. Porém se ela não tem tal pensamento, de<br />

que servirá o intentardes a seus pais e irmãos pedi-la? O que eu neste negócio<br />

fizera, fora pedir-lhe que em uma <strong>da</strong>s janelas que sobre esta quinta saem, vos<br />

quisesse <strong>da</strong>r uma palavra em negócio que importava ouvir-vos e referir-lhe o<br />

intento que tendes, e de sua resposta alcançaríamos o que mais convém para<br />

ficardes sen<strong>do</strong> ou bem venturoso, ou bem de to<strong>do</strong> desengana<strong>do</strong>.<br />

Este conselho de Roberto aprovou Bonifácio pelo mais conveniente e eu<br />

me resolvi a segui-lo, falan<strong>do</strong> a uma cria<strong>da</strong> sua que em Bolonha lhe havia por<br />

vezes leva<strong>do</strong> alguns escritos meus, por quem lhe mandei dizer que <strong>da</strong>s janelas<br />

que junto <strong>da</strong> fonte saiam me importava muito me fizesse favor de ouvir-me uma<br />

palavra, quan<strong>do</strong> seus pais recolhi<strong>do</strong>s estivessem, porque havia de partir-me ao<br />

outro dia. A resposta foi que depois <strong>da</strong> meia-noite chegaria à janela, como se<br />

recolhesse a lua. Com esta resposta por extremo alegre, apenas o quartea<strong>do</strong><br />

resplan<strong>do</strong>r <strong>da</strong> lua se ia retiran<strong>do</strong> a outro hemisfério, quan<strong>do</strong> baixei à quinta e<br />

junto à cau<strong>da</strong>losa fonte que a troco de cristal cobrava flores <strong>do</strong>s amenos<br />

jardins, que na quinta com sua corrente fertilizava, estive esperan<strong>do</strong> se abriria<br />

a janela que de horizonte ao sol de Fenisa servia. Já o relógio <strong>da</strong>s estrelas <strong>da</strong><br />

meia-noite passava quan<strong>do</strong> senti que a janela se abria. Cheguei o mais vizinho<br />

à fonte que então de espelho servia, se para tal beleza podia achar-se espelho,<br />

e <strong>da</strong>n<strong>do</strong>-lhe as graças <strong>do</strong> favor que me fazia, me lembra que prossegui,<br />

dizen<strong>do</strong>:<br />

Tit. Liv., Lib. 7.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!