17.04.2013 Views

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

202 Padre Mateus Ribeiro<br />

alheios. Ignorantemente julga quem com nuvens alheias intenta escurecer e<br />

eclipsar luzes e resplan<strong>do</strong>res próprios. Pouco cabe<strong>da</strong>l se pode e deve fazer <strong>do</strong><br />

juízo <strong>do</strong> vulgo, que pela maior parte as cousas indiscretamente avalia, e quanto<br />

mais acelera<strong>da</strong>mente de alguém falar, tanto mais brevemente de falar cessa,<br />

que sempre a muita veloci<strong>da</strong>de no correr indício foi de muito ce<strong>do</strong> haver de<br />

parar. Aquela se deve avaliar por desgraça (quan<strong>do</strong> não fosse por afronta), que<br />

<strong>do</strong>s sábios foi escrita e <strong>do</strong>s <strong>do</strong>utos trata<strong>da</strong>, porque contra a duração <strong>do</strong>s<br />

tempos parece imortalizam perseverança. De Hiponates, insigne poeta, se<br />

conta ser tão feio e disforme no rosto que em certo mo<strong>do</strong> mais se podia julgar<br />

por monstro que por homem; e porque Antermo e Bupalo, <strong>do</strong>us escultores de<br />

seu tempo, o esculpiram em mármore por zombaria, fazen<strong>do</strong> grande ludíbrio e<br />

solenizan<strong>do</strong> com demasia<strong>do</strong>s risos sua figura, ele notavelmente ira<strong>do</strong> de tal<br />

sorte os perseguiu com a mor<strong>da</strong>z sátira de seus versos, e tão afectuosamente<br />

perseverou em vituperá-los com seus poemas em vingança, que dizem chegou<br />

um deles a enforcar-se, precipita<strong>do</strong> <strong>do</strong>s desgostos com que Hiponates lhe fez<br />

pagar sua indiscreta zombaria. E por ventura que essa seria a causa porque o<br />

grande Alexandre tanto se temia <strong>do</strong>s escritos <strong>do</strong>s sábios, <strong>da</strong>s obras <strong>do</strong>s<br />

<strong>do</strong>utos, que mais deles se receava que <strong>do</strong>s exércitos arma<strong>do</strong>s com que em<br />

campanha combatia, ten<strong>do</strong> para si que eram poderosos com seus escritos (se<br />

o odiassem) a dislustrar as glórias que seus triunfos adquiri<strong>da</strong>s lhe tinham.<br />

Porém <strong>do</strong>s ditos <strong>do</strong> vulgo, pela maior parte ignorante, nem há porque tomar<br />

gosto, por serem indiscretos, nem há razão de sentir tanta pena, por serem<br />

seus rumores de pouca dura. É o povo símbolo <strong>da</strong> mesma inconstância, como<br />

disse Cícero: tão fácil de mu<strong>da</strong>r-se, como de persuadir-se. Exemplos de sua<br />

muita varie<strong>da</strong>de podem ser Alcibíades ateniense e Marco António romano,<br />

ambos em extremo de seus povos aclama<strong>do</strong>s e ambos com igual excesso<br />

persegui<strong>do</strong>s. Foi Alcibíades mil vezes <strong>do</strong> povo de Atenas ama<strong>do</strong> e mil vezes<br />

dele com notável ódio infama<strong>do</strong> e persegui<strong>do</strong>, até que ultimamente em Frigia<br />

foi tiranicamente morto. Marco Mânlio aclama<strong>do</strong> com vivas imortais <strong>do</strong> povo<br />

romano, <strong>da</strong>n<strong>do</strong>-lhe o honroso título de capitolino por haver com notável valor<br />

defendi<strong>do</strong> o Capitólio <strong>do</strong>s franceses, quan<strong>do</strong> o tinham com astúcia militar quasi<br />

ocupa<strong>do</strong>: tão celebra<strong>do</strong> pelas grandes vitórias que tinha alcança<strong>do</strong> com seu<br />

valor, e juntamente pelos muitos benefícios que tinha feito ao povo romano, e<br />

ultimamente dele mesmo foi sentencia<strong>do</strong> à morte e precipita<strong>do</strong> <strong>da</strong> Roca

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!