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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte I 129<br />

A fama de tantas partes em ausências lhe adquiriu aplausos no ânimo<br />

<strong>da</strong> rainha Maria Estuar<strong>da</strong>, que a ser possível causar-se amor ver<strong>da</strong>deiro em<br />

peitos humanos sem vista de olhos <strong>do</strong> sujeito que há-de ser ama<strong>do</strong>, se podiam<br />

os aplausos que digo avaliar por amores; mas, como diz Santo Agostinho 168 ,<br />

que não podem amar-se sujeitos que não se conhecem, e sen<strong>do</strong> os olhos entre<br />

to<strong>do</strong>s os senti<strong>do</strong>s as principais portas <strong>da</strong> alma para o conhecimento, como diz<br />

o mesmo Santo, antes quero <strong>da</strong>r-lhe título de aplausos que lhe granjeou a fama<br />

de suas partes, disposição e gentileza, que avaliar os efeitos desta<br />

benevolência por amores. Era a este tempo este senhor de Arli de vinte anos<br />

de i<strong>da</strong>de, que igualava quasi a <strong>da</strong> rainha Maria Estuar<strong>da</strong>, e sen<strong>do</strong> (como disse<br />

Platão) a conformi<strong>da</strong>de e proporção <strong>do</strong>s anos causa eficaz para conciliar e unir<br />

vontades, facilmente veio a conseguir efeito este casamento, que se tratou com<br />

o conde de Lines, pai <strong>do</strong> senhor de Arli, que sen<strong>do</strong> dele chama<strong>do</strong> a Escócia, se<br />

concluiu o casamento com a rainha, com universal contentamento de seus<br />

vassalos.<br />

Celebraram-se as bo<strong>da</strong>s com grandes festas, que an<strong>da</strong>n<strong>do</strong> o tempo se<br />

renovaram com o nacimento de um filho que a rainha pariu, e o reino o festejou<br />

como seu rei futuro. Tinha a rainha a seu serviço por camareiro-mor um senhor<br />

piemontês, que de França trouxe, aonde a tinha servi<strong>do</strong>, quan<strong>do</strong> mais próspera<br />

sua felici<strong>da</strong>de se mostrava. Chamava-se este priva<strong>do</strong> David: era de gentil<br />

disposição e presença, mui visto nas ciências e artes liberais, e <strong>do</strong>ta<strong>do</strong> de<br />

tantas partes e cortesãos costumes que o faziam ama<strong>do</strong> de to<strong>do</strong>s e digno <strong>da</strong><br />

privança <strong>da</strong> rainha, que muito o favorecia. Teve este David amores com uma<br />

senhora <strong>da</strong> família de Doglez, ain<strong>da</strong> parenta d'el-rei por parte <strong>da</strong> mãe; porém<br />

vin<strong>do</strong> a manifestar-se os ocultos favores que dela diziam havia recebi<strong>do</strong>, com<br />

dispêndios de seu crédito e reputação, o pai desta <strong>do</strong>nzela o injuriou de<br />

palavras descompostas, em presença <strong>da</strong> rainha, e ven<strong>do</strong> que ele recusava o<br />

receber a sua filha por esposa, como dizem tinha prometi<strong>do</strong>, ou fosse por não<br />

se sentir culpa<strong>do</strong>, ou por avaliar a livian<strong>da</strong>de <strong>da</strong> <strong>da</strong>ma por incapaz de recebê-<br />

la, o pai, leva<strong>do</strong> de um furor e zelo vingativo, o matou às punhala<strong>da</strong>s em<br />

presença <strong>da</strong> rainha, que não foi bastante a impedir semelhante atrevimento,<br />

para o qual dizem dera el-rei tácito consentimento, que dizem ao morto odiava<br />

D. Aug., Lib. 3. De Trinit.

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