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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte III 509<br />

houvéreis de pedir a morte, desejan<strong>do</strong>-a como seguro por to<strong>do</strong>s naufrágios <strong>da</strong><br />

vi<strong>da</strong> e <strong>da</strong>s molestas pensões de vossa i<strong>da</strong>de.<br />

Bem pudera o Santo Simeão, quan<strong>do</strong> teve a Deus humana<strong>do</strong> em seus<br />

braços, pedir-lhe que ou lhe renovasse a i<strong>da</strong>de, ou que lhe dilatasse a vi<strong>da</strong>;<br />

mas na<strong>da</strong> disto lhe pediu, senão que em paz o tirasse dela, que como justo e<br />

bem entendi<strong>do</strong> conhecia que o maior favor era em paz <strong>da</strong>r fim a seus perío<strong>do</strong>s,<br />

pois com uma passagem breve finalizava muitos anos de cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s e muitos<br />

séculos de moléstias. É precisamente este trânsito forçoso, diz o padre Santo<br />

Ambrósio 491 , pois em passá-lo com constância e valor se faz suave a<br />

passagem. To<strong>do</strong>s os agros, por mais que pareçam desabri<strong>do</strong>s, com a vontade<br />

se a<strong>do</strong>çam. Lá disse Aristóteles 492 que a tristeza e a alegria tinham sua origem<br />

na vontade, porque assim como tu<strong>do</strong> o que de vontade se aceita é fácil e<br />

alegre, assim tu<strong>do</strong> o que sem ela se obra é pesa<strong>do</strong> e triste. É a vontade o<br />

cunho racional que dá valor às obras: se é a morte infalível, tomai-a com<br />

vontade e não vos parecerá espantosa, pois nunca se atemoriza o coração<br />

<strong>da</strong>quilo que a vontade deseja. Só teme morrer, diz São João Crisóstomo, quem<br />

viver mais não espera; mas quem aspira a logros <strong>da</strong> eterna vi<strong>da</strong> porque há-de<br />

temer largar os despojos <strong>da</strong> mortal? Ou porque há-de recear deixar um vale de<br />

penas quem pode viver seguro nos montes resplandecentes <strong>da</strong> glória? Oh<br />

pátria venturosa, Jerusalém celestial, visão de paz, <strong>do</strong>micílio <strong>do</strong> amor, região<br />

<strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, centro <strong>da</strong> alegria, esfera de to<strong>do</strong>s os resplan<strong>do</strong>res, seguro porto de<br />

nossos desejos, mora<strong>da</strong> de Deus, corte <strong>do</strong>s santos, império <strong>da</strong> eterni<strong>da</strong>de,<br />

quem fora tão ditoso que já em ti se vira!<br />

Com as lágrima nos olhos deu fim o Ermitão Felisberto à sua exortação,<br />

como quem vivia <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> tão discretamente desengana<strong>do</strong>. De que seus<br />

companheiros se mostraram edifica<strong>do</strong>s e o enfermo Rogério não pouco<br />

persuadi<strong>do</strong>, dizen<strong>do</strong>:<br />

- Confesso, venerável Ermitão, que quasi impaciente temi esta<br />

despedi<strong>da</strong> <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, tanto mal aceita, quanto menos de meus cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s<br />

espera<strong>da</strong>. Mas já com ouvir-vos os desenganos dela, sinto em meu coração<br />

menos afeição ao temporal que deixo e novos desejos <strong>da</strong> imortali<strong>da</strong>de que<br />

S. Amb., De bona mort.<br />

Arist., Rhetor.

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