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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte I 183<br />

ofendi<strong>do</strong> me tinha, antes conhecen<strong>do</strong> em sua presença um gesto grave e<br />

airoso, suposto que em extremo triste, e notan<strong>do</strong> juntamente o sobressalto que<br />

lhe ocasionou meu seguimento, lhe disse desta sorte:<br />

- O imaginar, senhor, que éreis outra pessoa que vou buscan<strong>do</strong>, que<br />

distâncias grandes servem de enganos aos olhos, foi causa de seguir-vos para<br />

desenganar-me: per<strong>do</strong>ai-me a moléstia que vos causaria a veloci<strong>da</strong>de que me<br />

chegou a alcançar-vos, que meu intento não era <strong>da</strong>r-vos pena, quan<strong>do</strong> de hoje<br />

em diante serão meus desejos de servir-vos.<br />

- Não há culpa, senhor, em vossa diligência (respondeu ele) porque não<br />

houve temor algum que vosso seguimento me não causasse, pois a tal extremo<br />

me tem conduzi<strong>do</strong> tristezas que me acompanham, sentimentos que me<br />

lastimam, que nem a morte me atemoriza, nem a vi<strong>da</strong> me alegra, e an<strong>do</strong><br />

fugin<strong>do</strong> de to<strong>da</strong> a companhia porque tu<strong>do</strong> no mun<strong>do</strong> me aborrece.<br />

- De Timon Ateniense (lhe disse eu) se conta ser tão inimigo de to<strong>do</strong>s os<br />

homens e fugir tanto [<strong>da</strong>] sua conversação e companhia que cean<strong>do</strong> uma vez<br />

com ele Apamanto e louvan<strong>do</strong>-lhe o saboroso <strong>da</strong>s iguarias e perfeição <strong>do</strong>s<br />

guisa<strong>do</strong>s de seu convite, Timon lhe respondeu que mais de louvar fora se<br />

Apamanto nele não estivera; e não contente de fugir à companhia <strong>do</strong>s homens<br />

em vi<strong>da</strong> a quis juntamente evitar na morte, man<strong>da</strong>n<strong>do</strong>-se sepultar junto às<br />

on<strong>da</strong>s <strong>do</strong> mar no areal deserto, com epitáfio que bem manifestava o quanto<br />

to<strong>da</strong> a conversação humana lhe aborrecia. Porém vós, senhor, que logo em<br />

vosso aspecto manifestais não serdes rústico no nacimento, nem como Timon<br />

desabri<strong>do</strong> na conversação, por que causa com tanto excesso vos deixais<br />

vencer <strong>da</strong>s tristezas que fujais à vista de quem se não for poderoso a remediá-<br />

las, ao menos não deixará de procurar-vos to<strong>do</strong> alívio? E se este desejo é<br />

bastante a obrigar vossa cortesia, vos peço pelo que vossa prudência descobre<br />

me comuniqueis a causa de vossos sentimentos, fian<strong>do</strong> de mim que saberei<br />

senti-los, quan<strong>do</strong> não possam minhas razões avaliá-los.<br />

- O alívio é impossível (respondeu o desconheci<strong>do</strong> mancebo) porque<br />

igualmente o é o remédio, ten<strong>do</strong> por certo que somente a morte com abreviar-<br />

me a vi<strong>da</strong> poderá finalizar minhas ânsias; mas pois com tanta cortesia me<br />

obrigais a que refira a história que há-de acrecentar meu sentimento, assim por<br />

obedecer-vos como juntamente para desenganar-vos de que são meus males

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