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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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338 Padre Mateus Ribeiro<br />

fortuna. Que resplandeçam as estrelas, que desde o berço de seu brilhante<br />

nascimento luziam, não é admiração, sen<strong>do</strong> a luz tão natural a quem desde o<br />

princípio a vestiu por gala; mas que o cometa forma<strong>do</strong> <strong>da</strong>s exalações <strong>da</strong> terra<br />

queira, subin<strong>do</strong> ao mais alto, parecer estrela no luzir, é desvanecimento, pois<br />

quanto mais apressa<strong>do</strong> brilha, mais depressa sua luz se apaga; pois<br />

sustentan<strong>do</strong>-se no que tem de terreno o que parece resplan<strong>do</strong>r de estrela, não<br />

teve mais duração para luzir que a que teve a matéria em se gastar.<br />

Desengana<strong>do</strong> pois <strong>do</strong> pouco que posso esperar <strong>do</strong> fruto de meus<br />

desvelos e <strong>do</strong> lucro de meus trabalhos, ven<strong>do</strong>-me ca<strong>da</strong> vez mais pobre e<br />

menos estima<strong>do</strong>, porque as emulações não dão quartel às cortesias,<br />

desespera<strong>do</strong> <strong>da</strong> fortuna e magoa<strong>do</strong> de haver despendi<strong>do</strong> a flor de meus anos<br />

nas letras com tantos trabalhos e tão pouco proveito, desengana<strong>do</strong> que<br />

nascimento humilde e pobreza grande não são asas para subir, antes pesos<br />

para mais descer, <strong>da</strong>n<strong>do</strong> a despedi<strong>da</strong> aos estu<strong>do</strong>s, me retiro ao tosco <strong>do</strong>micílio<br />

de meus pais, onde com o trabalho de minhas mãos os ajude a sustentar a<br />

vi<strong>da</strong>, já que com o de meus desvelos não pude melhorar em na<strong>da</strong> sua pobreza.<br />

Siga as escolas quem nasceu poderoso, pois há-de ser respeita<strong>do</strong>;<br />

quem nasceu rico, pois há-de ser favoreci<strong>do</strong>; quem tem asas para voar, pois<br />

tem segura a subi<strong>da</strong>; quem tem luzes para poder resplandecer, pois sempre<br />

pode brilhar. Mas a mim, a quem tu<strong>do</strong> falta, de que aproveita o génio natural<br />

senão de conhecer que aprendi a conhecer desenganos à custa de meus<br />

trabalhos e que é ignorância querer aspirar a grandezas quem nasceu e se<br />

criou em pobreza e humil<strong>da</strong>de?<br />

Suspensos nos deixou uma tão desespera<strong>da</strong> resolução como mostrou o<br />

magoa<strong>do</strong> mancebo, a quem eu respondi desta sorte:<br />

- Duvi<strong>da</strong>r pudéramos com razão <strong>da</strong> ver<strong>da</strong>de de vossos estu<strong>do</strong>s e<br />

progressos neles à vista de uma tão indiscreta resolução, como mostrais em<br />

vosso retiro, acção indigna de quem professa letras. Cousas há que ou nunca<br />

houveram de emprender-se, ou nunca convém deixarem-se; porque é publicar<br />

<strong>do</strong>us desacertos: o primeiro em emprender e o segun<strong>do</strong> em deixar. A<br />

inconstância sempre foi repreendi<strong>da</strong> e a constância louva<strong>da</strong>. Nunca de árvore<br />

que muitas vezes mu<strong>da</strong> o lugar, diz o Séneca 338 , pode colher-se fruto. Se<br />

Senec, Epist. 2.

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