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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte II 263<br />

- Bem sei, senhores, que com justa razão podeis queixar-vos que eu fui<br />

a causa de vos verdes tão inquietos, porque <strong>do</strong> desafio que emprendi com<br />

Dionísio Montal<strong>do</strong>, hoje meu cunha<strong>do</strong> e de antes meu ofensor, nasceram os<br />

sobressaltos e peregrinações tão molestas em que nos vemos; mas minha<br />

desculpa nasce <strong>da</strong> causa que como tão forçosa deu motivo a meu justo<br />

sentimento. Lá disse Quintiliano 300 que era menos sofrer os perigos <strong>da</strong> ira que<br />

os vitupérios <strong>da</strong> injúria. É a honra nos sujeitos bem nasci<strong>do</strong>s tão escrupulosa<br />

que periga com as sombras <strong>do</strong> desprezo, quanto mais com os desenganos <strong>da</strong><br />

desestimação, sen<strong>do</strong> um ilustre afronta<strong>do</strong> cadáver de sua nobreza, que pouco<br />

lhe importa a vi<strong>da</strong> natural quan<strong>do</strong> nele está morta a vai<strong>da</strong>de <strong>da</strong> estimação.<br />

Muitas cousas faz a amizade por vontade que não sofre a estimação por<br />

descui<strong>do</strong>.<br />

Ferin<strong>do</strong> casualmente Alexandre Magno a Lisimacho dizem tirou a própria<br />

diadema real que na cabeça tinha para ven<strong>da</strong>r-lhe a feri<strong>da</strong>; e navegan<strong>do</strong> em<br />

outra ocasião pelo rio Eufrates, cain<strong>do</strong>-lhe o diadema <strong>da</strong> cabeça, um<br />

marinheiro se lançou a na<strong>do</strong> à corrente <strong>do</strong> rio e colhen<strong>do</strong> o diadema o pôs na<br />

cabeça para lhe ficarem livres os braços com que na<strong>da</strong>va, e apresentan<strong>do</strong>-o a<br />

Alexandre, ele lhe man<strong>do</strong>u <strong>da</strong>r um talento em prémio <strong>do</strong> serviço; e logo o<br />

man<strong>do</strong>u enforcar em castigo <strong>do</strong> atrevimento: que nem para reparo de melhor<br />

servir permitiu se valesse de indecências que tivessem sombras de ofender. A<br />

cousa que mais se sente, disse o filósofo, é o ver-se <strong>da</strong> honra despoja<strong>do</strong> quem<br />

nasceu dela enobreci<strong>do</strong>, e como a injúria de minha irmã tanto por minha conta<br />

corria, provocan<strong>do</strong>-me à vingança um tão injusto agravo, não era maravilha<br />

que eu para me apadrinhar no desafio me valesse <strong>da</strong> cortesia e valor <strong>do</strong><br />

senhor Felisberto, ignorante de seus próprios desgostos que hoje chego tanto a<br />

sentir quanto menos vejo os meios de os poder remediar. Bem pudera meu<br />

cunha<strong>do</strong> confessar a dívi<strong>da</strong>, como depois fez, e oferecer-se à satisfação como<br />

era justo fizera; mas como pudera eu vir a ser esposo <strong>da</strong> senhora Eugenia, que<br />

é hoje to<strong>do</strong> o meu alívio, se primeiro não experimentara o susto de meu maior<br />

tormento?<br />

Quintil., Declam. 13.

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