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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte IV 719<br />

grandezas o tempo as diminui e o abati<strong>do</strong> talvez o acrescenta; e fica com mais<br />

estímulos na memória o alto de que se cai que o baixo de que sobe.<br />

Com isto calou Polinar<strong>do</strong>, derraman<strong>do</strong> copiosas lágrimas de senti<strong>do</strong>, nas<br />

quais enterneci<strong>do</strong>s os três pie<strong>do</strong>sos ouvintes o acompanharam. Quis o Ermitão<br />

Felisberto ver se podia consolar suas queixas e <strong>da</strong>r algum alívio à sua tristeza;<br />

e assim serenan<strong>do</strong> o rosto na mágoa quanto lhe foi possível, porque só<br />

consolará a um aflito quem a própria <strong>do</strong>r de sua pena sente, lhe disse desta<br />

sorte:<br />

Cap. XXI.<br />

Da prática que Felisberto teve com Polinar<strong>do</strong> e como ele se partiu para Taranto<br />

com Hortênsio<br />

- Se bem quiserdes, senhor Polinar<strong>do</strong>, considerar a raiz <strong>da</strong> pena que<br />

tanto vos molesta com o presente esta<strong>do</strong> em que vos vedes, porventura que<br />

nem avalieis vossa <strong>do</strong>r por tão incapaz de alívio, nem vossa pena por tão<br />

impossível de remédio. Primeiramente os reis, príncipes e respúblicas isentas e<br />

soberanas nas sentenças que dão por seus ministros não agravam, assim<br />

como as palavras <strong>do</strong>s reis e príncipes soberanos nos não ofendem; porque<br />

como pelo supremo e inviolável <strong>da</strong> digni<strong>da</strong>de são isentos de poderem ser<br />

ofendi<strong>do</strong>s, assim suas palavras, ain<strong>da</strong> quan<strong>do</strong> fossem injuriosas, não ofendem<br />

a seus vassalos. Tem aos ministros de sua justiça concedi<strong>do</strong> o supremo de seu<br />

poder para administrarem, e assim executan<strong>do</strong> a justiça não ofendem. A pena<br />

de galés é afrontosa quan<strong>do</strong> a causa a culpa com a vileza: que o cativo nas<br />

masmorras an<strong>da</strong> de grilhões e cadeias carrega<strong>do</strong> e o barqueiro no seu barco<br />

rema, e nem o cativo com o pesa<strong>do</strong> <strong>do</strong>s ferros, nem o barqueiro com o duro <strong>do</strong><br />

remo ficam abati<strong>do</strong>s, porque lhes falta a culpa; e assim não é afronta nem as<br />

cadeias que o cativo arrasta, nem o remo que o barqueiro empunha. Ovídio 604<br />

disse que menos <strong>do</strong>r causava o padecer a pena <strong>do</strong> que o merecê-la, porque a<br />

não ser justamente mereci<strong>da</strong> pela culpa, não se chamaria propriamente pena.<br />

Ovid., 2. De Pont.

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