17.04.2013 Views

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

768 Padre Mateus Ribeiro<br />

Cap. V.<br />

Como Florisela foi restituí<strong>da</strong> a sua mãe e o que nisso passou<br />

Assi dizem que falou minha irmã a seu tirano rouba<strong>do</strong>r, continuan<strong>do</strong> as<br />

lágrimas o que as palavras termina<strong>do</strong> tinham; porque como a mágoa que<br />

estava no coração era a fonte <strong>do</strong>nde as lágrimas nasciam, deu perene<br />

comissão aos olhos para manifestarem a pena e limita<strong>da</strong> licença às vozes para<br />

publicarem a <strong>do</strong>r. E suposto que diga Quintiliano 668 que a cousa que mais<br />

facilmente se enxuga são as lágrimas de mulher, não se entende quan<strong>do</strong> a<br />

mágoa é excessiva e irremediável a <strong>do</strong>r. E como o fracasso era tão grande, o<br />

crédito arrisca<strong>do</strong> a um desaire indecoroso, que nas pessoas ilustres é o motivo<br />

mais digno de sentir-se, pouco seria serem seus olhos cau<strong>da</strong>losos rios, quan<strong>do</strong><br />

seu coração ficava sen<strong>do</strong> de penas dilata<strong>do</strong> mar. Também as cria<strong>da</strong>s de<br />

Feliciano que a minha irmã assistiam de vê-la chorar choravam; que são as<br />

lágrimas desafio que provocam aos olhos que as vem para imitá-los, ain<strong>da</strong> que<br />

seja na causa diferente a <strong>do</strong>r. Já os matutinos resplan<strong>do</strong>res <strong>do</strong> sol vinham<br />

comunican<strong>do</strong> ao mun<strong>do</strong> a luzi<strong>da</strong> infância de seus raios no purpúreo berço <strong>do</strong><br />

horizonte, quan<strong>do</strong> Feliciano, demovi<strong>do</strong> <strong>da</strong>s palavras e lágrimas de Florisela, lhe<br />

disse que ele a queria restituir à sua mãe, e diante dela diria o que agora<br />

calava. Man<strong>do</strong>u aos cria<strong>do</strong>s que preparassem logo o coche e às cria<strong>da</strong>s que<br />

pusessem os mantos, e ele se vestiu <strong>da</strong> melhor gala.<br />

Perguntou-lhe Antíoco, seu amigo, como intentava, depois <strong>do</strong> primeiro<br />

despenho de sua ousadia, querer-se oferecer a outro maior precipício, in<strong>do</strong><br />

pessoalmente levar Florisela à presença de sua ofendi<strong>da</strong> mãe. E respondeu-<br />

Ihe que o primeiro foi delírio de amante e sucesso <strong>da</strong> ventura, mas o segun<strong>do</strong><br />

era empenho <strong>da</strong> fi<strong>da</strong>lguia e generosi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> valor; que como estava seguro de<br />

não havê-la ofendi<strong>do</strong> e havê-la trata<strong>do</strong> com respeitos de irmã, como ele era<br />

testemunha, queria <strong>da</strong>r satisfação de que, se como quem amava emprendeu a<br />

ousadia, como fi<strong>da</strong>lgo que era soube respeitar o decoro de quem com lágrimas<br />

lhe pedia o favor de não violar o acrisola<strong>do</strong> timbre e laurea<strong>da</strong> palma de sua<br />

Quint., Lib. 9.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!