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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte VI 1041<br />

exemplos de outros a quem remediou a ausência e curou a distância ain<strong>da</strong> de<br />

maiores sentimentos <strong>do</strong>s que hoje padeceis.<br />

To<strong>do</strong>s os males se costumam curar no mun<strong>do</strong> com contrários<br />

medicamentos, diz o Papa S. Gregório 1142 . Causaram-se vossas mágoas com<br />

a vista, pois o remédio mais acerta<strong>do</strong> é a ausência. Consiste a vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> neve na<br />

frial<strong>da</strong>de nativa com que se conserva, que se admitira calor, logo se resolvera,<br />

porque nenhuma cousa pode perpetuar-se em seu contrário, como a água e o<br />

fogo, a humi<strong>da</strong>de e a secura, o que mostra a Filosofia com evidência. Dous<br />

extremos vos causam a vista de Doroteia, que são muito amor e muita pena: o<br />

amor pelo que a louvais de fermosa, a pena pelo que a culpais de mudável.<br />

Pois se foram vossos olhos os motivos em sua vista antes de a amardes e hoje<br />

de sentirdes, pois se vos não lisonjeara a beleza, não vos empenhareis na<br />

afeição, e se não vireis a mu<strong>da</strong>nça, não vos atormentara o sentimento. Pois<br />

com esta ausência de um e outro extremo vos livrais, fazen<strong>do</strong> cláusula o querer<br />

e receben<strong>do</strong> termo o penar. Estes são os <strong>do</strong>us pólos em que se move a esfera<br />

incessável de vossa aflição: amardes a quem se mostrou tão ingrata e<br />

sentirdes as mágoas de sua mu<strong>da</strong>nça; de um e outro <strong>da</strong>no consiste o remédio<br />

na distância. O temor de pendenciar aprendeu na postila <strong>da</strong>s feri<strong>da</strong>s recebi<strong>da</strong>s,<br />

como diz Quintiliano 1143 , que sair <strong>da</strong> pendência verten<strong>do</strong> sangue não é motivo<br />

para se desejar repetição, porque o penoso não é apeteci<strong>do</strong> e o cruento fica<br />

sempre lembra<strong>do</strong>. Não experimentastes a fortuna benévola no primeiro<br />

empenho a que vos arriscastes: feriram-vos os desaires <strong>da</strong> mu<strong>da</strong>nça,<br />

desenganou-vos a ingratidão com sair a campanha outro mais venturoso em<br />

ser aos olhos de Doroteia mais aceito e, se não mais destro em servi-la, mais<br />

bem afortuna<strong>do</strong> em agradá-la; cortou de um golpe as raízes à esperança, que<br />

foi acabar malogra<strong>do</strong> to<strong>do</strong> o merecimento, descobrin<strong>do</strong> a competência que era<br />

falsa a moe<strong>da</strong> com que Doroteia vos pagava as finezas que mostráveis em<br />

servi-la. Pois sobre conhecerdes o engano, já não seria crédito na discrição,<br />

nem abono de vosso juízo intentardes prosseguir uma porfia sem fruto e um<br />

assunto a quem desampara de to<strong>do</strong> a esperança. Não se acredita menos no<br />

militar exercício um capitão com saber <strong>da</strong>r uma batalha em tempo oportuno<br />

Greg., 23. Mor.<br />

Quint., Decl. 11.

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