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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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994 Padre Mateus Ribeiro<br />

suavi<strong>da</strong>de que as venturas prometem. Se Raimun<strong>do</strong> fora meu igual, pren<strong>da</strong>s<br />

tinha para o estimar em muito. Porém casar a furto e a desgosto <strong>do</strong> duque seu<br />

pai, sen<strong>do</strong> um príncipe potenta<strong>do</strong> de Itália e senhor tão poderoso no esta<strong>do</strong> e<br />

em tantos reinos vali<strong>do</strong> e sobretu<strong>do</strong> de quem nascemos vassalos, em cujo<br />

senhorio estão situa<strong>da</strong>s nossas ren<strong>da</strong>s e possessões, quem não temerá<br />

desgostá-lo, quanto mais ofendê-lo? Quem duvi<strong>da</strong> que tenha os baços tão<br />

dilata<strong>do</strong>s para vingar-se como o ânimo tão pronto para ressentir-se? Nunca as<br />

desigual<strong>da</strong>des asseguraram bonanças, antes sempre ameaçaram perigos.<br />

Nunca as venturas <strong>da</strong>riam tantas baixas se a ambição se satisfizera com<br />

menores eminências. Ventura que não promete duração, para que se chama<br />

ventura? Pois é maior a mágoa de a ver perdi<strong>da</strong> <strong>do</strong> que foi a alegria de lográ-la<br />

por espaço tão breve, para ser a pena depois tão dilata<strong>da</strong>. Que alegria podia<br />

eu ter de ver-me esposa de Raimun<strong>do</strong>, se por meu respeito visse a vossas<br />

mercês e a meus irmãos, a quem tanto amo, persegui<strong>do</strong>s e arrisca<strong>do</strong>s? Que<br />

contentamento podia assistir em meu coração, estan<strong>do</strong> de temores tão<br />

justamente ocupa<strong>do</strong>? É a mágoa antípo<strong>da</strong> <strong>do</strong> gosto e mal podem unir-se, é a<br />

tristeza noite escura <strong>do</strong> coração e mal pode ajuntar-se com o dia de alegria; e<br />

assim tu<strong>do</strong> em mim seria pena, por considerar que em vossas mercês tu<strong>do</strong><br />

seriam moléstias por minha causa.<br />

Já quan<strong>do</strong> na quinta assistia me oferecia Raimun<strong>do</strong> o ser meu esposo,<br />

cousa de que nunca fiz aceitação, como então a vossas mercês referi; porque<br />

não se desempenhava o brioso de meu pun<strong>do</strong>nor em poder dizer-se que era<br />

Raimun<strong>do</strong> em mim mal emprega<strong>do</strong>, sen<strong>do</strong> eu filha de tão ilustres pais, quan<strong>do</strong><br />

eu rejeita<strong>do</strong> tinha tantos casamentos que me pretenderam. Case Raimun<strong>do</strong><br />

aonde seu pai levar gosto e deixe-me a mim com minha sorte, que meu desejo<br />

não solicita suas maiorias para eu e ele vivermos desterra<strong>do</strong>s, <strong>da</strong>s iras <strong>do</strong><br />

duque seu pai persegui<strong>do</strong>s e vossas mercês odia<strong>do</strong>s por meu respeito e<br />

inquietos quan<strong>do</strong> eu os amo e estimo em mais que a própria via. Este é o meu<br />

parecer e nele concor<strong>da</strong> a minha vontade, que eu não me ausentei de Módena<br />

para Bolonha para cá vir a aceitar o que lá não admiti; pois quan<strong>do</strong> não haja de<br />

casar com titular que de ser meu esposo muito se preze, não faltará a clausura<br />

de um convento aonde me recolha, pois tenho irmãos tão honra<strong>do</strong>s em quem o<br />

solar ilustre <strong>do</strong>s Manfre<strong>do</strong>s perpetuar-se pode.

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