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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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822 Padre Mateus Ribeiro<br />

em Cesena forasteiro e meu hóspede, e sen<strong>do</strong> as leis <strong>do</strong> hospício tão<br />

privilegia<strong>da</strong>s, que, como diz Euripides 734 , não se há-de mostrar o rosto triste<br />

diante <strong>da</strong> pessoa hospe<strong>da</strong><strong>da</strong>, para que não venha a presumir que o<br />

melancólico <strong>da</strong> presença é mostrar tédio ou pesar de hospedá-lo, sen<strong>do</strong>, como<br />

escreve Ovídio 735 , menos airosa a despedi<strong>da</strong> <strong>do</strong> que seria no princípio o negar-<br />

se-lhe o hospício; assi por esta razão, como porque se consolasse em parte <strong>do</strong><br />

penoso sentimento que na fugi<strong>da</strong> de Lívia, sua esposa, sentia, pois diz<br />

Quintiliano 736 que a comparação de um desgosto suaviza a ânsia <strong>do</strong> outro que<br />

o sofre, lhe dei inteira notícia <strong>do</strong> sucesso de Florisela, de que nesta hora se me<br />

tinha <strong>da</strong><strong>do</strong> conta, pedin<strong>do</strong>-lhe seu parecer sobre isso.<br />

Admira<strong>do</strong> se mostrou Roberto, assi <strong>do</strong> atrevimento de Feliciano como <strong>da</strong><br />

modéstia rara com que depois procedera, sen<strong>do</strong> mancebo poderoso, amante, e<br />

minha irmã com extremos fermosa. Culpa grande o rapto, louvor grande o<br />

desempenho dela. A culpa teve os motivos no querer, porém a desculpa na<br />

generosi<strong>da</strong>de. E assi, depois de considerar um breve intervalo no parecer que<br />

<strong>da</strong>ria, falou desta sorte:<br />

- As cousas, senhor Lisar<strong>do</strong>, que podem sem o rigor <strong>da</strong>s armas<br />

remediar-se, me parece que não devem com excesso sentir-se, pois aonde não<br />

tem lugar o perigo <strong>da</strong> invasão, parece-me que não tem lugar o gravame <strong>do</strong><br />

sentimento. Tu<strong>do</strong> o que pode remediar-se com a paz, seria desacerto querer<br />

aventurá-lo ao duvi<strong>do</strong>so <strong>da</strong> guerra, que esta só tem lugar nos empenhos em<br />

que a honra com a paz periga e sem as armas na<strong>da</strong> se consegue. Confessais,<br />

senhor, que Feliciano Tiberto é ilustre, poderoso e rico, e desejan<strong>do</strong> ser esposo<br />

<strong>da</strong> senhora Florisela se arrojou à insolência que tanto mostrais sentir.<br />

Perguntara-vos eu se, depois de roubá-la, lhe fizera violência e a não quisera<br />

por esposa, que maior sentimento mostraríeis? Então seriam as armas árbitras<br />

<strong>da</strong> satisfação, renovan<strong>do</strong>-se as hostili<strong>da</strong>des <strong>do</strong>s passa<strong>do</strong>s ban<strong>do</strong>s, publican<strong>do</strong>-<br />

se o agravo com a vingança; porém ao presente a ofensa está em silêncio e o<br />

negócio em termos de se poder efectuar uma permanente paz. Queixais-vos <strong>do</strong><br />

Eur., in Ale.<br />

Ov., 3. De Trist.<br />

Quint., Decl. 3.

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