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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte I 217<br />

mestre e pai <strong>da</strong> Filosofia, Pitágoras, e morreu e foi sepulta<strong>do</strong> em Calábria, terra<br />

mui estranha à de seu nacimento; a Terêncio serviu de berço Cartago e de<br />

sepulcro Arcádia; em Mântua naceu Virgílio e foi sepulta<strong>do</strong> em Nápoles; em<br />

Itália Ovídio, e morreu desterra<strong>do</strong> na região de Ponto; ao grande Alexandre<br />

gerou Grécia e sepultou Babilónia; em Pérsia naceu Ciro e em Cítia ficou<br />

morto; em Roma naceram o grande Pompeu e Marco António e a ambos<br />

apenas deu o Egipto sepultura. E se considerar-mos bem as histórias, veremos<br />

que pela maior parte os grandes talentos, assim em letras como em armas, em<br />

terras estranhas e não em suas pátrias sepulta<strong>do</strong>s ficaram, e não me<br />

maravilho, porque sen<strong>do</strong> ordinariamente os sujeitos mais ilustres de maiores<br />

merecimentos, em suas pátrias pouco aceitos e a seus próprios naturais e<br />

patrícios odiosos, por não dizer inveja<strong>do</strong>s, não há dúvi<strong>da</strong> que para serem<br />

conheci<strong>do</strong>s por grandes, avalia<strong>do</strong>s por ilustres e afama<strong>do</strong>s por insignes, alheia<br />

terra havia de ampará-los e favorecê-los; porque um entendimento e juízo<br />

grande, se por estar em sujeito humilde o não ilustrará entre os naturais, sem<br />

dúvi<strong>da</strong> o enobrecerá entre os estrangeiros; porque a sabe<strong>do</strong>ria, ain<strong>da</strong> que<br />

tarde, sempre nesta ou naquela terra dá fruto, ain<strong>da</strong> que muitas vezes na<br />

própria pátria os pobres com partes sejam sepulcros vivos de seus<br />

merecimentos; e com maior razão podem chamar pátria sua a que os aplaude,<br />

que a que os encontra e persegue; aquela que os louva, que a que os vitupera;<br />

a que os ampara, que a que os desfavorece.<br />

Sete ci<strong>da</strong>des de Grécia contenderam entre si sobre Homero, e de<br />

nenhuma nos consta com certeza infalível que fosse sua pátria própria e<br />

ver<strong>da</strong>deira; porém mais obriga<strong>do</strong> lhe ficava pelos grandes desejos que<br />

mostravam de o terem por natural <strong>do</strong> que a sua mesma pátria, que porventura<br />

o estimou em menos. O morrer em terra alheia pouco importa, o morrer como<br />

convém é o necessário empenho que procurar devemos; pois sen<strong>do</strong> nossa<br />

pátria universal e ver<strong>da</strong>deira a glória, para chegarmos a ela de to<strong>da</strong> a parte se<br />

pode começar a jorna<strong>da</strong>. Para quem bem vive, to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong> é pátria, como<br />

disse Santo Ambrósio; e para quem mal procede, to<strong>da</strong> a terra é estranha; os<br />

vícios desnaturalizam e as virtudes habilitam; nenhum é estrangeiro sen<strong>do</strong><br />

vicioso, nenhum é natural sen<strong>do</strong> perverso.<br />

Nisto chegaram à ermi<strong>da</strong> sen<strong>do</strong> já o sol-posto: estava edifica<strong>da</strong> em um<br />

sombrio vale, servin<strong>do</strong>-lhe de espal<strong>da</strong>s um <strong>do</strong>s montes que o formavam. Era

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