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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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710 Padre Mateus Ribeiro<br />

suposto que o motivo que para isso teve não se declarava, nem jamais com<br />

certeza se soube.<br />

Venturosos chamou Plínio Júnior aos que de tal sorte escreviam que<br />

pudessem suas cartas de to<strong>do</strong>s ser vistas sem detrimento. São as cartas um<br />

mu<strong>do</strong> clarim que o segre<strong>do</strong> toca, um parto <strong>do</strong> coração em que se rasga a vi<strong>da</strong><br />

ao escondi<strong>do</strong>, uma nau em que se aventura às on<strong>da</strong>s <strong>da</strong> fortuna talvez a<br />

própria vi<strong>da</strong>; comissão que se dá a quem a lê com que em matérias perigosas<br />

tenha senhorio sobre quem a escreve; são um público testemunho de nossas<br />

obras e desejos que mal pode contradizer-se; são intérpretes <strong>da</strong> vontade que<br />

nelas se manifesta, cunhos <strong>do</strong> metal que corre em nosso juízo, testemunhas<br />

sem voz e acusa<strong>do</strong>res sem vi<strong>da</strong> de nossos procedimentos; e finalmente<br />

arrisca<strong>da</strong> confiança em que o mais estima<strong>do</strong> se aventura, pois nelas fica sen<strong>do</strong><br />

o interior descoberto e o encoberto público para ser de to<strong>do</strong>s conheci<strong>do</strong>.<br />

Trazen<strong>do</strong>-se um dia ao grande Pompeu, quan<strong>do</strong> an<strong>da</strong>va em Espanha<br />

nas guerras contra Sertório, um correio que seus sol<strong>da</strong><strong>do</strong>s tomaram com cartas<br />

que de Roma a Sertório se escreviam, que como inimigo <strong>da</strong> pátria estava pelo<br />

sena<strong>do</strong> proscrito; porém ven<strong>do</strong> o generoso Pompeu a perturbação em que seu<br />

exército se via, toman<strong>do</strong> se nestas cartas viria escrita cousa que a eles e a<br />

seus pais, parentes e amigos que em Roma ficavam prejudicasse, man<strong>da</strong>n<strong>do</strong><br />

vir um braseiro, sem as abrir, as queimou diante de to<strong>do</strong> o exército, queren<strong>do</strong><br />

desassombrar a seus capitães <strong>do</strong>s sustos em que se viam e obrigan<strong>do</strong>-os com<br />

esta maior benevolência à maior fideli<strong>da</strong>de. Este mesmo exemplo em outra<br />

ocasião semelhante seguiu o empera<strong>do</strong>r Augusto César, com que granjeou a<br />

maior benevolência e amor <strong>do</strong>s que se temiam, se as cartas se lessem, de se<br />

acharem culpa<strong>do</strong>s. Temen<strong>do</strong>-se já os lacedemónios deste perigo, para evitar<br />

que seus segre<strong>do</strong>s não viessem a ser <strong>do</strong>s inimigos descobertos, quan<strong>do</strong><br />

escreviam os capitães de seus exércitos o que importava que fizessem, lhes<br />

escreviam por cifras. Porém an<strong>da</strong>n<strong>do</strong> o tempo, se apurou tanto o desejo de<br />

virem em conhecimento <strong>do</strong>s segre<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s contrários, que necessitaram os<br />

lacedemónios de subtilizarem novos méto<strong>do</strong> para se encobrirem; por que<br />

descifran<strong>do</strong>-se a antigua capa de suas cifras, não se fun<strong>da</strong>sse à altura de seus<br />

segre<strong>do</strong>s. Não eram as cartas que Luís Orsino a Veneza man<strong>da</strong>va encobertas<br />

em cifras, senão de sua letra ordinária e final, com as quais se lhe fez evidente

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