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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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464 Padre Mateus Ribeiro<br />

defunto era impróprio, para compaixão demasia<strong>da</strong> e para estar <strong>do</strong> casamento<br />

arrependi<strong>da</strong> não se isentava de mudável; mas brevemente o tempo nos deu o<br />

desengano, quan<strong>do</strong> in<strong>do</strong> um dia a um mosteiro de freiras, aonde tinha uma<br />

prima, a ver uma festa que nele se celebrava, se recolheu <strong>da</strong> clausura para<br />

dentro, cerran<strong>do</strong> as portas ao mun<strong>do</strong> e a suas lisonjas: acerta<strong>da</strong> eleição e<br />

digna empresa de sua discrição e fermosura.<br />

Admirou-se Paris <strong>do</strong> acerto, julgan<strong>do</strong> que tal prodígio de beleza só era<br />

digna de tal esposo: louvaram o desengano tão despreza<strong>do</strong>r <strong>da</strong> lisonja, a<br />

pie<strong>do</strong>sa resolução tão merece<strong>do</strong>ra <strong>do</strong>s aplausos; e se foi assombro que<br />

espantou pelo belo, não menos foi admiração que assombrou pelo ajuiza<strong>do</strong>.<br />

Mas foi tal em Félis o sentimento desta repentina mu<strong>da</strong>nça que pouco lhe<br />

faltou para acabar a vi<strong>da</strong> aos rigores <strong>da</strong> mágoa, sem admitir férias em sua<br />

pena, celebran<strong>do</strong> com tantas lágrimas o total desengano de suas esperanças<br />

que eu, compadeci<strong>do</strong> de ver o excessivo que sentia, lhe disse um dia, que só<br />

com ele estava, assim:<br />

Cap. XIV.<br />

Da prática que teve Raimun<strong>do</strong> com Félis e como se ausentaram de Paris<br />

- Quan<strong>do</strong> vosso sentimento, amigo Félis, fora justo, valera-me de outros<br />

motivos para os alívios; mas quan<strong>do</strong> vejo o muito que sem razão sentis e a<br />

pouca causa que tendes quan<strong>do</strong> vos queixais, pôr-me-ei <strong>da</strong> parte <strong>da</strong> razão<br />

para convencer vossa injustiça. Chorais de Anar<strong>da</strong> os acertos de discreta? Que<br />

mais podereis sentir os enganos de erra<strong>da</strong>? Ou que lágrimas reserváveis se<br />

fôreis ofendi<strong>do</strong>, se tantas derramais quan<strong>do</strong> vos não ofende? Dizeis que a<br />

amáveis muito, eu o conce<strong>do</strong>, mas a vós mesmo vos amáveis mais; pois to<strong>do</strong><br />

este querer era a fim de possuí-la, que se só a ela sinceramente amásseis, vos<br />

devíeis muito alegrar com suas melhoras; mas como era vosso amor<br />

interessa<strong>do</strong>, sentis o que imaginais que perdeis, cerran<strong>do</strong> os olhos ao muito<br />

que ela nesta mu<strong>da</strong>nça ganhou. Bem disse Santo Agostinho que nunca se<br />

chega a amar aquilo que só per si mesmo se não ama. São Gregório Papa<br />

ensina que quem não deseja ver melhora<strong>da</strong> a cousa ama<strong>da</strong>, nunca na ver<strong>da</strong>de

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