17.04.2013 Views

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

966 Padre Mateus Ribeiro<br />

Constantino, filhos de Frederico Manfre<strong>do</strong>, agora assistente nesta ci<strong>da</strong>de de<br />

Bolonha, vos escolhi para, assim disfarça<strong>do</strong> como venho, ser um par de dias<br />

vosso hóspede com meu amigo e secretário Bernardino Marascoto, que me<br />

acompanha, confian<strong>do</strong> por vosso meio conseguir o fim de uma empresa que<br />

me obrigou a deixar a corte e, sem meu pai o saber, partir-me desconheci<strong>do</strong> a<br />

esta ci<strong>da</strong>de. Do empenho que me traz vos <strong>da</strong>rei notícia a mais epiloga<strong>da</strong> que<br />

me for possível, como quem descreve o dilata<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> em breve mapa.<br />

Já me persua<strong>do</strong>, que pois residia nesta ci<strong>da</strong>de, tereis visto a Fenisa,<br />

filha de Frederico Manfre<strong>do</strong>; porque só para mim, que lhe mereço mais,<br />

regateou a vista para que a visse menos. Poucas vezes a vi quan<strong>do</strong> morava<br />

em Módena: a primeira vista de seu garbo foi poderosa para vencer-me e a<br />

segun<strong>da</strong> eficaz com sua fermosura para matar-me. Com proprie<strong>da</strong>de<br />

chamavam à fermosura olhos de basilisco. To<strong>do</strong>s os animais nocivos, como o<br />

leão, o tigre, o lobo, verdugos inexoráveis <strong>da</strong>s vi<strong>da</strong>s, cruentos executores <strong>da</strong>s<br />

mortes, empenham para se mostrarem cruéis ou as garras homici<strong>da</strong>s ou as<br />

presas odiosas; a víbora mais nociva, o áspide mais venenoso valem-se <strong>da</strong>s<br />

mordeduras, deixan<strong>do</strong> na pequena sangria que imprimem muitas estra<strong>da</strong>s à<br />

morte e nenhumas esperanças à vi<strong>da</strong>. Só o basilisco, sem avizinhar-se, de<br />

longe como seta com os olhos fere e com a vista mata. Assim a fermosura,<br />

ten<strong>do</strong> na vista to<strong>do</strong> o perigo, se procura a mesma vista como se nela consistira<br />

o remédio, e beben<strong>do</strong>-se nos olhos o veneno, nos mesmos olhos se procura o<br />

antí<strong>do</strong>to. São as palavras essencialmente vozes, porém acidentalmente podem<br />

ser ou encómios que louvem, ou opróbrios que ofen<strong>da</strong>m, ou panegíricos que<br />

autorizem, ou injúrias que deslustrem. Assim os olhos <strong>da</strong> beleza, sen<strong>do</strong><br />

essencialmente olhos que vem, são acidentalmente ou setas que matam, ou<br />

lisonjas que obrigam.<br />

Soube Fenisa que era de mim com extremos ama<strong>da</strong> e professou outro<br />

extremo em aborrecer-me. Sofrível pudera ser o não amar-me, mas intolerável<br />

o chegar a aborrecer-me. Se o fazia por me considerar tão superior, sen<strong>do</strong><br />

seus pais de meus pais vassalos, advertira que a morte e o amor iguala a<br />

to<strong>do</strong>s. Sen<strong>do</strong> Clódio Romano de ilustríssima família, renunciou à fi<strong>da</strong>lguia com<br />

que havia nasci<strong>do</strong> e se fez plebeu só por ódio vingativo, para que sen<strong>do</strong> tribuno<br />

<strong>do</strong> povo, pudesse perseguir a Cícero e desafogar o intrínseco sentimento que<br />

dele tinha. Pois se o ódio fez a Clódio plebeu, como não faria o amor a Fenisa

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!