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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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920 Padre Mateus Ribeiro<br />

empera<strong>do</strong>r <strong>do</strong> petulante desaforo, conceden<strong>do</strong>-lhes as vi<strong>da</strong>s por não faltar aos<br />

privilégios <strong>da</strong> imuni<strong>da</strong>de aos embaixa<strong>do</strong>res pelo direito <strong>da</strong>s gentes concedi<strong>da</strong>s,<br />

os man<strong>do</strong>u prender; e despoja<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s ricos vesti<strong>do</strong>s que como embaixa<strong>do</strong>res<br />

traziam, os desterrou para Frigia, aonde à Pérsia tornar jamais pudessem,<br />

como refere Herodiano 917 .<br />

E suposto que Manfre<strong>do</strong> não era propriamente embaixa<strong>do</strong>r, porque só<br />

era envia<strong>do</strong> <strong>do</strong>s sena<strong>do</strong>res de Módena a render a obediência e reconhecer por<br />

senhor a Constâncio, como to<strong>do</strong>s os príncipes, ci<strong>da</strong>des e repúblicas de Itália<br />

faziam, e juntamente a impetrar dele a confirmação de seus privilégios e<br />

antigas isenções e novas mercês e favores que o empera<strong>do</strong>r generosamente<br />

confirmava e concedia, haven<strong>do</strong> respeito à brevi<strong>da</strong>de com que a obediência lhe<br />

rendiam e obsequiosos a seu império se mostravam: necessário era um<br />

envia<strong>do</strong> discreto, ajuiza<strong>do</strong> e prudente, que soubesse cautamente agenciar e<br />

conseguir o que a ci<strong>da</strong>de pretendia, responder e facilitar as dúvi<strong>da</strong>s que se<br />

movessem na pretensão, e por isso os <strong>do</strong> governo de Módena fizeram tão<br />

acerta<strong>da</strong> eleição de Manfre<strong>do</strong>, quasi pressagian<strong>do</strong> de seu talento a felici<strong>da</strong>de<br />

<strong>do</strong>s despachos de sua pretensão.<br />

Resoluto Manfre<strong>do</strong> a emprender jorna<strong>da</strong> tanto ao custo de suas ânsias<br />

como ao dispêndio <strong>da</strong>s lágrimas de sua esposa, de cuja fermosura era o maior<br />

abono o ver-se agora de novo tão persegui<strong>da</strong> <strong>da</strong> ventura, tratou ele de<br />

preparar-se com to<strong>da</strong> a ostentação de cria<strong>do</strong>s custosamente vesti<strong>do</strong>s, cavalos<br />

com ricos jaezes orna<strong>do</strong>s, galas preciosas para sua pessoa que ostentassem<br />

grandeza e bizarria, desfazen<strong>do</strong>-se para esta ocasião de algumas jóias de<br />

muito valor que reserva<strong>da</strong>s tinha, conhecen<strong>do</strong> que consiste muitas vezes o<br />

crédito felice de uma embaixa<strong>da</strong> na bizarra ostentação de quem a leva.<br />

Despediu-se de Eurides sua esposa, sen<strong>do</strong> mais loquazes as lágrimas que as<br />

vozes, pois nas ausências e sentimentos grandes apelar costuma o coração<br />

para o tribunal <strong>do</strong>s olhos, aonde se desagrava a <strong>do</strong>r <strong>do</strong> silêncio a que a<br />

condenam as sau<strong>da</strong>des.<br />

Nestas deixaremos a Eurides delas bem feri<strong>da</strong> e mal cura<strong>da</strong> no<br />

apartamento de seu esposo, combati<strong>da</strong> <strong>do</strong>s temores de poder ser de seu pai<br />

conheci<strong>do</strong>, arrisca<strong>da</strong> navegação de suas esperanças, pequenas âncoras para<br />

7 Herod., Lib. 6.

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