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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte II 325<br />

poucas vezes fez pazes com a beleza. À vista de Lucin<strong>da</strong>, que a ci<strong>da</strong>de<br />

admirava nas ocasiões em que por divertir memórias de seus pesares<br />

connosco ao pra<strong>do</strong> saía, se desculpava o delito de Juliano, pois a fim de ser<br />

esposo seu se arrojara com precipícios de amante a roubá-la, <strong>da</strong>n<strong>do</strong>-lhe título<br />

de rouba<strong>do</strong>r venturoso se o conseguira. Outros acriminavam mais seu<br />

desaforo, pois buscara ministros tão indecentes como os mouros para pôr em<br />

risco sua própria ventura e a vi<strong>da</strong> e crédito <strong>do</strong> que com extremos amava: que<br />

como amor discursa com a vontade e não com o entendimento, sen<strong>do</strong> esta<br />

cega, mal pode servir de guia.<br />

Preparan<strong>do</strong> andávamos a parti<strong>da</strong> para Nápoles, para desassossegar<br />

Lucin<strong>da</strong> as excessivas sau<strong>da</strong>des que de ver a sua mãe a afligiam; quan<strong>do</strong> o<br />

grão-duque de Florença nos man<strong>do</strong>u visitar com um refresco digno de tal<br />

príncipe e pedir-nos quiséssemos ir por Florença para que Lucin<strong>da</strong> um par de<br />

dias aí descansasse <strong>da</strong>s moléstias passa<strong>da</strong>s. São as petições <strong>do</strong>s príncipes,<br />

como disse Quintiliano, impérios disfarça<strong>do</strong>s em rogos: man<strong>da</strong>m como quem<br />

roga e pedem como quem man<strong>da</strong>, ocultam o poder na benevolência <strong>do</strong> rogar.<br />

São mais poderosas rogativas de um poderoso que ameaços de um desvali<strong>do</strong>,<br />

e obra mais a cortesia de um grande que a dádiva, por maior que seja, de um<br />

pequeno. Enfim foi força obedecer a seu gosto, assim por ser um príncipe tão<br />

generoso, como por estarmos nas terras de seu senhorio. Partimos para<br />

Florença, meu pai e irmã em carroça e eu e Dom Sancho a cavalo, com<br />

companhia conveniente de cria<strong>do</strong>s, caminhan<strong>do</strong> junto às cristalinas correntes<br />

<strong>do</strong> rio Arno, que com a frescura de suas águas, nascen<strong>do</strong> pequeno arroio no<br />

monte Apenino que lhe serve de berço, com o discurso de sua jorna<strong>da</strong><br />

usurpan<strong>do</strong> as águas como saltea<strong>do</strong>r <strong>do</strong>s pra<strong>do</strong>s a diversas ribeiras que com<br />

ele se encontram, já poderoso no cabe<strong>da</strong>l e destemi<strong>do</strong> na ousadia, se atreve a<br />

sair <strong>da</strong>s embosca<strong>da</strong>s <strong>do</strong> campo e avizinhar-se aos muros <strong>da</strong> rica Florença,<br />

sem receios de ser preso; porque sua ligeireza no correr o assegura, e<br />

despojan<strong>do</strong> vários arroios, passan<strong>do</strong> por Pisa, confia<strong>do</strong> entra no mar<br />

desvaneci<strong>do</strong>, para perder nele em um assalto quanto tinha ganha<strong>do</strong> na terra<br />

em diversos encontros.<br />

Seguin<strong>do</strong> pois, como digo, o ameno curso deste famoso rio, que liberal<br />

com os pra<strong>do</strong>s os matiza de flores e enriquece de frutos, avistámos a Florença,<br />

que o rio divide em duas partes para deixar assunto aos juízes sobre qual delas

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