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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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820 Padre Mateus Ribeiro<br />

fica sem valor se com seus merecimentos se pesa; porém, se sem igual<strong>da</strong>de<br />

há-de casar-se, parecia-me a mi que só eu podia ser admiti<strong>do</strong> a conseguir esta<br />

ventura, pois há <strong>do</strong>us anos que este bem preten<strong>do</strong>, aman<strong>do</strong>-a ca<strong>da</strong> vez mais<br />

com tal extremo que não pode meu querer subir mais alto, porque não pode a<br />

vontade aspirar a mais extremo.<br />

- E quem vos segurou a vós (respondi eu) que o amar a minha irmã em<br />

minha ausência era merecer e não agravar? Esse só motivo que houvera era<br />

bastante para eu me <strong>da</strong>r por ofendi<strong>do</strong> e não por obriga<strong>do</strong>: em minha ausência<br />

pretender o que só comigo se havia de tratar, foi perder-se-me o respeito,<br />

fazen<strong>do</strong> mais confianças no solitário <strong>do</strong> que no decoroso. As mulheres como<br />

Florisela não casam por afeição, que seria aventurar-se uma inobediência a um<br />

desacerto e talvez a um descrédito, pon<strong>do</strong> a perigo a vontade de seguir os<br />

arrojos <strong>da</strong> afeição e não os ditames <strong>da</strong> nobreza, de que podiam seguir-se<br />

dilata<strong>do</strong>s desgostos e irreparáveis <strong>da</strong>nos. Sobre esta matéria tenho já<br />

respondi<strong>do</strong> e <strong>da</strong><strong>do</strong> a última resolução.<br />

Com isto me levantei pesaroso e ele se despediu descontente <strong>do</strong><br />

despacho, porém bem mereci<strong>do</strong> de quem em minha presença publicou que<br />

amava a minha irmã estan<strong>do</strong> eu ausente, como se fora meio de merecer, o<br />

indecente de não me saber respeitar. Aprovou Roberto, que presente estava,<br />

minha resolução por briosa, porque como estava tão magoa<strong>do</strong> <strong>do</strong>s indiscretos<br />

devaneios de Teodósio que originaram seus desgostos, julgou por atrevi<strong>do</strong>s<br />

desacertos os com que Silvério a minha irmã por esposa pretendia.<br />

Apaixona<strong>do</strong>, depois de ele despedir-se, entrei a falar com minha mãe e<br />

irmã, referin<strong>do</strong>-lhes o que com Silvério passara e estranhan<strong>do</strong>-lhes a uma a<br />

palavra que inconsidera<strong>da</strong> dera e a outra os motivos que a Silvério havia <strong>da</strong><strong>do</strong><br />

para ele, em minha presença, pouco respeitoso manifestar como havia <strong>do</strong>us<br />

anos que amante a pretendia; <strong>do</strong> que ambas o censuraram de indiscreto em<br />

manifestar o que mais podia desluzir seu intento <strong>do</strong> que abonar a pretensão.<br />

Desculparam-se minha mãe em haver <strong>da</strong><strong>do</strong> a palavra de importunos rogos <strong>da</strong><br />

mãe de Silvério persuadi<strong>da</strong>, porém reservan<strong>do</strong> sempre o direito à minha<br />

aprovação e consentimento, e minha irmã não se <strong>da</strong>n<strong>do</strong> por sabe<strong>do</strong>ra <strong>do</strong>s<br />

cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s de Silvério, antes mostran<strong>do</strong>-se ofendi<strong>da</strong> de ele se declarar em minha<br />

presença por seu amante. E movi<strong>da</strong>s uma e outra com a ocasião presente, me<br />

veio minha mãe a <strong>da</strong>r notícia <strong>do</strong> que Feliciano Tiberto usara, assi no desaforo

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