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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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520 Padre Mateus Ribeiro<br />

suspensa, quan<strong>do</strong> se ouviram os gemi<strong>do</strong>s de quem se queixava e com<br />

enterneci<strong>da</strong>s vozes favor pedia. Despertou o Ermitão a seus companheiros,<br />

que ouvin<strong>do</strong> os enterneci<strong>do</strong>s clamores, juntamente com o <strong>do</strong>no <strong>da</strong> casa em<br />

que se hospe<strong>da</strong>vam, saíram to<strong>do</strong>s apressa<strong>do</strong>s, seguin<strong>do</strong> o roteiro <strong>da</strong>s vozes<br />

que se ouviam, e chegan<strong>do</strong> fora <strong>do</strong> lugar, junto ao mar, viram em terra a um<br />

vulto que em gemi<strong>do</strong>s publicava a pena que sentia, se quan<strong>do</strong> uma pena é<br />

grande tem bastante comissão a voz para interpretar o intenso dela. Junto<br />

estava um cavalo em terra caí<strong>do</strong>, que mal podia levantar-se; mas enfim o<br />

obrigaram a que se erguesse, ain<strong>da</strong> que, leso de uma mão, vagarosamente<br />

caminhasse. Era quem <strong>da</strong>va as vozes um galhar<strong>do</strong> mancebo de vinte e cinco<br />

anos, ao que parecia, de i<strong>da</strong>de, ricamente vesti<strong>do</strong> e que logo mostrava ser<br />

pessoa digna de to<strong>do</strong> o respeito, e na guarnição e rico a<strong>do</strong>rno <strong>do</strong> cavalo se<br />

descobria o que a sua presença acreditava.<br />

E como não estava capaz de poder mover-se, por se mostrar to<strong>do</strong><br />

senti<strong>do</strong> e magoa<strong>do</strong> <strong>da</strong> que<strong>da</strong> rigorosa que com ele o cavalo dera <strong>da</strong> eminência<br />

de um outeiro que junto à praia se via, toman<strong>do</strong> o <strong>do</strong>no <strong>da</strong> casa o cavalo <strong>da</strong>s<br />

rédeas e os três companheiros em braços ao caí<strong>do</strong>, caminharam para o lugar à<br />

casa em que se hospe<strong>da</strong>vam; e fazen<strong>do</strong>-lhe uma cama o melhor que permitia a<br />

brevi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> tempo, se procurou quem o curasse <strong>da</strong>s <strong>do</strong>res e lesão que a<br />

despenha<strong>da</strong> que<strong>da</strong> lhe tinha causa<strong>do</strong>. E ele <strong>da</strong>n<strong>do</strong> ao hóspede uma bolsa que<br />

com moe<strong>da</strong>s de ouro em abundância trazia, lhe pediu despendesse<br />

liberalmente tu<strong>do</strong> quanto necessário lhe fosse. Não faltou ele em com to<strong>da</strong> a<br />

brevi<strong>da</strong>de procurar no lugar quem lhe acudisse a curá-lo com os remédios que<br />

por então mais convenientes pareceram; com os quais, mais bran<strong>da</strong>s as <strong>do</strong>res,<br />

pôde <strong>do</strong>rmir o que <strong>da</strong> noite restava, que não era muito. E aos primeiros rasgos<br />

<strong>da</strong> aurora foi o hóspede a outro lugar a chamar um perito cirurgião que nele<br />

assistia. O qual veio curá-lo e lhe assegurou não haver perigo. Com o que mais<br />

alivia<strong>do</strong>, o enfermo se mostrou mais consola<strong>do</strong> em suas moléstias.<br />

Desejosos estavam os nossos romeiros de saber quem o enfermo seria,<br />

porque na presença, trato e cortesia que mostrava parecia ser pessoa principal;<br />

e ven<strong>do</strong>u-o tão desacompanha<strong>do</strong> de cria<strong>do</strong>s, não alcançavam que segre<strong>do</strong><br />

seria o caminhar tão só. Com este desejo lhe assistiam com grande cari<strong>da</strong>de e<br />

cui<strong>da</strong><strong>do</strong>, não lhes parecen<strong>do</strong> justo deixarem-no em casa e terra alheia, tão<br />

desampara<strong>do</strong> e molesta<strong>do</strong>, que com grande pena revolver-se podia. Assim lhe

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