17.04.2013 Views

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

960 Padre Mateus Ribeiro<br />

ingratidão, direi que entre tantos desgraça<strong>do</strong>s não é maravilha haver mais um<br />

infelice.<br />

Tu<strong>do</strong> no mun<strong>do</strong> pode com o tempo ter mu<strong>da</strong>nça. O rio mais cau<strong>da</strong>loso<br />

pode descobrir as areias, se com os perío<strong>do</strong>s <strong>do</strong> tempo se secar a fonte <strong>do</strong><br />

cristalino solar <strong>do</strong>nde nasce; pode arruinar-se o monte mais altivo, fican<strong>do</strong><br />

sen<strong>do</strong> vale o que jubilava de monte. Se Fenisa é insensível, para que logra os<br />

foros de mulher? E se é mulher, possível é mu<strong>da</strong>r-se. Os repentes nos<br />

venturosos tem mais valor <strong>do</strong> que os cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s vagarosos nos desgraça<strong>do</strong>s. Eu<br />

na<strong>da</strong> venho a perder em fazer prova <strong>da</strong> ventura. No dificultoso consiste o preço<br />

<strong>da</strong> estimação, disse Quinto Cúrcio 975 , porque na facili<strong>da</strong>de desfalece to<strong>do</strong> o<br />

desejo, como escreve Plínio 976 . Em emprender o que é mais eleva<strong>do</strong> se mostra<br />

a grandeza <strong>do</strong> coração, que a águia generosa nunca voa ao humilde <strong>da</strong> terra,<br />

mas ao remonta<strong>do</strong> <strong>do</strong>s ares; e quan<strong>do</strong> não avance meu desejo ao eminente a<br />

que aspiro, antes quero queixar-me com razão que viver com cobardias.<br />

Com estes e outros solilóquios passei a noite desvela<strong>do</strong>, e apenas a<br />

aurora deu os primeiros indícios de se avizinhar o dia, quan<strong>do</strong> me resolvi a<br />

escrever-lhe, toman<strong>do</strong> a pena para declarar as minhas, dizen<strong>do</strong> assim:<br />

De Cesena, minha pátria, me trouxeram a Bolonha os desejos de<br />

ver-te, e foi tua vista maior que tua fama. Muito deves, Fenisa, à natureza<br />

em te formar tão fermosa, que só em confessar que te vi, chego a<br />

professar amar-te, sen<strong>do</strong> tua vista o mais belo suborno <strong>da</strong>s vontades.<br />

Sou morga<strong>do</strong>, ilustre e rico; não me trouxe a Bolonha necessi<strong>da</strong>de de<br />

estu<strong>da</strong>r, mas de aprender em teus olhos lições de mais querer-te, se<br />

pudera ser possível poder mais amar-te, que o que sobe ao auge não<br />

pode mais subir, se de novo <strong>da</strong> eleva<strong>da</strong> eminência não descer. E como<br />

meu amor é impossível que desça a menos, assim julgo ser impossível<br />

que possa subir a mais. Foste o primeiro empenho que teve nesta vi<strong>da</strong><br />

meu cui<strong>da</strong><strong>do</strong> e meu amor o primogénito de minha vontade, e como<br />

primícias merece ser a teus olhos aceito. E pois foi tão em nasci<strong>do</strong>, não<br />

Quint. Curt., Lib. 7.<br />

Plin. Jun., Lib. 8.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!