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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte IV 617<br />

to<strong>do</strong>s as graças <strong>do</strong> favor que lhes fazia. E despedin<strong>do</strong>-se dela, foram<br />

juntamente com Octávio Lamberias a <strong>da</strong>rem conta ao lega<strong>do</strong> governa<strong>do</strong>r <strong>do</strong><br />

que negocia<strong>do</strong> tinham. Divulgou logo a fama notícias <strong>do</strong> sucesso de Bolonha,<br />

sen<strong>do</strong> de ca<strong>da</strong> qual avalia<strong>do</strong> conforme os afectos que ao preso tinham. Que<br />

nunca o desamor soleniza festejar as venturas de quem aborrece. Tem as<br />

admirações por primeiro berço em que nascem ao descostume, como disse<br />

Plínio Júnior; porque em chegan<strong>do</strong> a ter igual, logo perdeu os foros de<br />

admirável, que só por único admitia. Tal este casamento de Júlio Galeazzo<br />

com Aurora, que a fama divulgou, admirou a to<strong>do</strong>s; não só por não espera<strong>do</strong>,<br />

mas ain<strong>da</strong> por incrível de que sen<strong>do</strong> tão singular nas perfeições, viesse a ser<br />

de seu próprio inimigo por esposa possuí<strong>da</strong>.<br />

Apenas me chegou o anúncio desta não espera<strong>da</strong> mu<strong>da</strong>nça de Aurora,<br />

ven<strong>do</strong> corta<strong>da</strong>s em flor to<strong>da</strong>s minhas esperanças, ou por não serem minhas<br />

finezas cabalmente conheci<strong>da</strong>s, ou por serem mal afortuna<strong>da</strong>s, que raras<br />

vezes correm os merecimentos parelhas com a ventura, quan<strong>do</strong>, impaciente ao<br />

excessivo <strong>da</strong> pena que ocupou meu coração, disse eu:<br />

- Aqui deram fim meus estu<strong>do</strong>s para sempre, que não me verá mais<br />

Bolonha cursar sua academia com desejos de venturoso, pois, desde o<br />

princípio que entrei nela, me considero tão desgraça<strong>do</strong>. É a <strong>do</strong>r de minha alma<br />

tão pesa<strong>da</strong> para sofrer-se como impossível para declarar-se. E quan<strong>do</strong> a pena<br />

se padece em silêncio, fica tão incapaz <strong>do</strong> remédio como careci<strong>da</strong> <strong>do</strong> alívio.<br />

Meu intento não era para declara<strong>do</strong> e assim minha aflição não é para diverti<strong>da</strong>,<br />

pois em comunicar-se tem o perigo e em encobrir-se tem o tormento. Bem<br />

disse Cícero que havia cousas que podiam emprender-se e não declarar-se;<br />

porque o emprendê-las é crédito <strong>do</strong> valor e o manifestá-las risco <strong>da</strong> ventura. E<br />

pois confiei <strong>do</strong> silêncio meu desejo, não convém que descubra com palavras o<br />

intenso de minha <strong>do</strong>r.<br />

Com esta resolução mandei a meus cria<strong>do</strong>s me preparassem o cavalo, e<br />

despedin<strong>do</strong>-me brevemente de alguns amigos, fingi me chegaram cartas em<br />

que minha mãe estava enferma e com perigo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e desejava ver-me antes<br />

de sua morte. E bem se mostrava em meu rosto a profun<strong>da</strong> tristeza que me<br />

assistia, se bem a causa dela só de meu coração a fiava. Assim <strong>da</strong>n<strong>do</strong> a<br />

Bolonha as últimas despedi<strong>da</strong>s, como quem jamais intentava vê-la, quis passar<br />

pela quinta de Aurora, para ver se podia falar-lhe, e sucedeu-me a ocasião

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