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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte V 831<br />

- De uma e outra causa nasce (respondeu Roberto): <strong>do</strong> que obrei estou<br />

arrependi<strong>do</strong> e de não aparecer vivo magoa<strong>do</strong>.<br />

- Pois se assi é (respondi eu), culparei por demasia<strong>da</strong> a <strong>do</strong>r para ser tão<br />

limita<strong>da</strong> a causa. Sentir o que não se efectua é discor<strong>da</strong>r a causa <strong>do</strong>s efeitos; e<br />

sen<strong>do</strong> esta primeiro que os efeitos, aonde não se dão os efeitos, também não<br />

se pode <strong>da</strong>r existência na causa, como diz Aristóteles 754 . Intentastes arroja<strong>do</strong><br />

matar a vossa esposa, não teve efeito a injusta paixão: pois se sem a<br />

ofenderdes ficou viva, para que a chorais como se ao rigor <strong>do</strong> punhal ficara<br />

morta? Que demonstrações de sentimento guardáveis para o injusto <strong>do</strong><br />

homicídio, se tanto vos atormenta a representação? Se tanto vos magoa a<br />

memória <strong>da</strong> tragédia sem sangue executa<strong>da</strong>, que eterna <strong>do</strong>r vos não causaria<br />

a vista <strong>do</strong> punhal banha<strong>do</strong> no inocente sangue de quem ofendi<strong>do</strong> vos não<br />

tinha? Quereis que corram parelhas no penalizar a <strong>do</strong>r <strong>da</strong> representação com a<br />

mágoa irreparável <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de? Com que lágrimas celebraríeis a pena de ver<br />

no campo desmaia<strong>da</strong> a flor de Bolonha mais fermosa, no parecer delícia, no<br />

juízo admiração, purpuriza<strong>da</strong> a neve com seu sangue e para to<strong>do</strong>s a lástima<br />

mais viva, ven<strong>do</strong> sem razão a maior beleza morta, para to<strong>do</strong>s mágoa nunca<br />

cabalmente senti<strong>da</strong> e para vós descrédito nunca cabalmente esqueci<strong>do</strong>? Com<br />

que arrependimento teríeis justa causa de derramardes cau<strong>da</strong>losas lágrimas de<br />

pesaroso, mais bem mereci<strong>da</strong>s que as que Ovídio 755 diz que derramava em<br />

seu desterro, ven<strong>do</strong> por vossa causa queixosa Bolonha de que desterrastes<br />

dela nos eclipses funerais <strong>da</strong> morte a melhor filha que respirou com seus ares,<br />

que alimentou com seus frutos, que aplaudiu com seus louvores, pois de to<strong>do</strong>s<br />

a louvarem era tão digna? Diriam que conspirastes com a inveja, que fizestes<br />

liga coma tirania, que unistes parciali<strong>da</strong>de com a crueza, que celebrastes<br />

parentesco com a inumani<strong>da</strong>de, quan<strong>do</strong> sem ser culpa<strong>da</strong> vossa esposa, com<br />

coração diamantino abristes brecha moral no peito em que ela vos trazia por<br />

imagem de seus cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s copia<strong>do</strong> e por alvo de seus desvelos assisti<strong>do</strong>.<br />

Estas, senhor Roberto, seriam as justas causas <strong>da</strong> maior <strong>do</strong>r, o devi<strong>do</strong><br />

sentimento <strong>da</strong> maior mágoa que provocasse a lágrimas sem fim, pois nunca<br />

seriam meio para o remédio. Aqui podia subir a pena ao requinta<strong>do</strong>, a <strong>do</strong>r ao<br />

Ar., Post. 1.<br />

Ov., Lib. 1. De Pont.

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