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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte VI 1051<br />

à sua quinta de Bom <strong>Porto</strong>, que não muito distante aparecia, para que Carlos<br />

descansasse <strong>da</strong> jorna<strong>da</strong> que apressa<strong>da</strong> trouxeram, e Raimun<strong>do</strong> expediu os<br />

caça<strong>do</strong>res para caçarem e que levassem à quinta de Frederico to<strong>da</strong> a caça que<br />

colhessem. Com isto montaram as tropas caminhan<strong>do</strong> para a quinta, que com<br />

tornea<strong>do</strong>s obeliscos e <strong>do</strong>ura<strong>da</strong>s grimpas em que o sol reverberava se<br />

descobria alterosa na vista e deliciosa nos verdes arvore<strong>do</strong>s que a cercavam, à<br />

qual chegaram às três horas depois <strong>do</strong> meio-dia.<br />

Desmontaram <strong>do</strong>s cavalos Raimun<strong>do</strong> e Bernardino e aju<strong>da</strong>ram a Carlos<br />

a sair <strong>da</strong> liteira em que vinha, que tu<strong>do</strong> nesta ocasião foram demonstrações de<br />

finezas, porque o amor de Fenisa sabia humilhar os timbres <strong>da</strong>s grandezas e a<br />

soberania <strong>da</strong>s majestades, como diz Ovídio 1163 . Quiseram Frederico e sua<br />

mulher ajoelhar-se aos pés de Raimun<strong>do</strong> para lhe renderem as graças de tão<br />

repeti<strong>da</strong>s mercês e duplica<strong>do</strong>s favores que lhes havia feito, mas ele, levan<strong>do</strong>-<br />

os nos braços, o não permitiu, oferecen<strong>do</strong>-se de novo para obrar por eles<br />

outros empenhos maiores em tu<strong>do</strong> o que seu valimento pudesse igualar com<br />

seu desejo. Fenisa, já menos esquiva, antes mais agradeci<strong>da</strong> às finezas de um<br />

príncipe tão cortês e tão amante, que bem reconhecia ela que por seu respeito<br />

obrava Raimun<strong>do</strong> tantos extremos, dizem que ao despedir-se lhe falou assim:<br />

- Estimara eu, senhor, ser tão eloquente que pudessem minhas palavras<br />

render a vossa excelência as devi<strong>da</strong>s graças <strong>da</strong>s mercês que temos recebi<strong>do</strong>,<br />

assim como sei conhecê-las para saber estimá-las. Mas esta memória ficará<br />

sempre presente em meus senti<strong>do</strong>s para desejar a vossa excelência<br />

felicíssimos anos de vi<strong>da</strong> com os aumentos que to<strong>do</strong>s seus vassalos lhe<br />

queremos.<br />

Correu o carmim mais fino a purpúrea cortina ao belo rosto ao<br />

pronunciar estas palavras, passan<strong>do</strong> de anima<strong>da</strong> açucena a parecer viva rosa,<br />

porque em to<strong>do</strong> o tempo nunca deixou de ser flor. Suspenso Raimun<strong>do</strong> na<br />

fermosura que via e nas palavras que ouvia, saíram à controvérsia <strong>do</strong>us<br />

senti<strong>do</strong>s sobre qual ficava mais venturoso: se os olhos pela beleza que com a<br />

vista logravam, se os ouvi<strong>do</strong>s pelo suave <strong>da</strong> voz que percebiam. E dizem que<br />

lhe respondeu:<br />

Ovid., 2. Metam.

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