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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte VI 965<br />

ain<strong>da</strong> ao pun<strong>do</strong>nor, pon<strong>do</strong> sobre um bofete um estoque, um broquel e uma<br />

pistola, que eram as armas que para essa noite sair fora prepara<strong>da</strong>s tinha,<br />

mandei reca<strong>do</strong> que entrassem. Entraram os <strong>do</strong>us emascara<strong>do</strong>s, pedin<strong>do</strong>-me<br />

man<strong>da</strong>sse sair para fora a <strong>do</strong>us cria<strong>do</strong>s meus que os entraram acompanhan<strong>do</strong><br />

diante, porque para me falarem assim lhes convinha; e eu com demonstrações<br />

de brioso, por que de mim não presumissem receios ou covardia, não só os<br />

mandei sair, mas fechan<strong>do</strong> a porta por dentro com <strong>da</strong>r volta à chave; fican<strong>do</strong><br />

sós eu e os <strong>do</strong>us desconheci<strong>do</strong>s, à luz de um lampião grande que na casa<br />

havia, vi que os trajes eram custosos. E se como diz Terêncio a preciosi<strong>da</strong>de e<br />

cultura <strong>do</strong>s vesti<strong>do</strong>s publicam a estimação de quem os veste, bem indicavam<br />

não serem pessoas de humilde esfera. Haven<strong>do</strong>-se assegura<strong>do</strong> que só de mim<br />

podiam ser ouvi<strong>do</strong>s, e assenta<strong>do</strong>s os três, tiraram os <strong>do</strong>us as máscaras e um<br />

deles falou assim:<br />

- Bem conheço, senhor Lisar<strong>do</strong>, que o improviso de minha vin<strong>da</strong> e a tais<br />

horas, suposto que ao vosso valor nunca podia causar receio, não deixará de<br />

haver causa<strong>do</strong> a vosso juízo admiração. Nasce esta, como diz Aristóteles 986 ,<br />

<strong>da</strong> incerteza, <strong>do</strong> desuso e <strong>do</strong> desconhecimento <strong>do</strong>s fins. E para que a<br />

suspensão não prossiga com desconhecerdes a quem vos busca, eu sou<br />

Raimun<strong>do</strong> de Este, filho segun<strong>do</strong> <strong>do</strong> duque de Módena, que bem deveis<br />

conhecer ser potenta<strong>do</strong> e senhor soberano em Itália.<br />

Ouvin<strong>do</strong> isto me levantei <strong>da</strong> cadeira, e fazen<strong>do</strong>-lhe a devi<strong>da</strong> cortesia,<br />

que a tão grande pessoa era obrigação, lhe disse:<br />

- A maior admiração fica sen<strong>do</strong> hoje para mim o dignar-se vossa<br />

excelência de honrar e autorizar com sua presença o limita<strong>do</strong> hospício desta<br />

casa, que <strong>da</strong>qui a diante será o timbre mais lustroso de nossa família,<br />

reconheci<strong>da</strong> a este grande favor com que vossa excelência quis autorizar e<br />

honrar a este seu menor cria<strong>do</strong>, a quem ofereço uma vontade mui pronta para<br />

empregá-la em seu serviço.<br />

Levantou-se Raimun<strong>do</strong> e com grande cortesia, levan<strong>do</strong>-me nos braços,<br />

me assentou na cadeira e prosseguiu dizen<strong>do</strong>:<br />

- Por ter sabi<strong>do</strong>, senhor Lisar<strong>do</strong>, o ilustre de vossa família e o valor que<br />

assiste em vossa pessoa e a muita amizade que tens com Carlos e<br />

Arist., Met. 1.

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