17.04.2013 Views

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte I 205<br />

ou para assegurarem seu temor, ou para livremente prosseguirem sua<br />

desleal<strong>da</strong>de? Exemplos temos em Can<strong>da</strong>ules, quarto rei de Lídia, morto às<br />

punhala<strong>da</strong>s às mãos de Giges, seu maior amigo, por ordem de sua própria<br />

mulher, a rainha, que com ele depois <strong>caso</strong>u e a quem deu a coroa de seu<br />

reino; em Amintas, rei de Macedónia, a quem Eurídice, sua própria esposa,<br />

maquinou a morte; e de Filipe, pai <strong>do</strong> grande Alexandre, se suspeita que<br />

quan<strong>do</strong> Pausânias lhe tirou a vi<strong>da</strong> fosse persuadi<strong>do</strong> ou favoreci<strong>do</strong> de Olímpias,<br />

sua esposa. A inimigo que foge fazer-lhe a ponte de prata, que mais vai<br />

inimizade descoberta que amor enganoso e fingi<strong>do</strong>. Mulher que uma vez<br />

perdeu decoro devi<strong>do</strong> a seu esposo, com ofendê-lo na leal<strong>da</strong>de, sempre ficou<br />

suspeita de tirana; porque como a própria consciência com temores contínuos<br />

a inquieta, receios que os remorsos de sua própria consciência culpa<strong>da</strong> lhe<br />

causam, pensão própria de criminosos, como disse Plutarco, sen<strong>do</strong> a<br />

consciência mil testemunhas de um delito, como discretamente diz Quintiliano,<br />

ou sen<strong>do</strong> a pena mais grave <strong>da</strong>s culpas ela mesma, como escreve S. Isidro. E<br />

sen<strong>do</strong> o contínuo temor causa <strong>do</strong> ódio, não poden<strong>do</strong> ser ama<strong>do</strong> naturalmente o<br />

que é muito temi<strong>do</strong>, quem duvi<strong>da</strong> que trate de assegurar seu temor à custa <strong>da</strong><br />

vi<strong>da</strong>, cuja duração inquieta e sobressalta? A quantos, porventura, oculto<br />

veneno acelerou a morte a quem uma fugi<strong>da</strong> manifesta pudera conservar a<br />

vi<strong>da</strong>? Mais se temeram sempre desafeiçoa<strong>do</strong>s encobertos que manifestos<br />

inimigos. De ladrão <strong>do</strong>méstico não há quem se assegure, de saltea<strong>do</strong>r<br />

estranho muitos se acautelam: viver em um <strong>do</strong>micílio com inimigos é mais que<br />

guerrear em campanha com adversários, e de uma mulher desleal é o inimigo<br />

de que mais se deve acautelar e temer, antes julgo aventura que desgraça o<br />

viver de suas traições assegura<strong>do</strong>.<br />

Além disto o assistir na companhia de um mari<strong>do</strong> agrava<strong>do</strong> que o ignora,<br />

uma mulher liviana que o ofende, dá motivos ao vulgo sempre malicioso a<br />

formar juízos contra a reputação e decoro de quem menos alcança sua ofensa.<br />

Qual o faz complice no delito? Qual língua licenciosa o culpa de descui<strong>da</strong><strong>do</strong>?<br />

Qual o censura de cobarde ou indiscreto? E o que no mari<strong>do</strong> fica sen<strong>do</strong><br />

inculpável ignorância quer muitas vezes a malícia humana avaliar por<br />

dissimula<strong>do</strong> conhecimento. Porém na mulher que temerosa foge, que culpa<strong>da</strong><br />

se ausenta, não tem lugar a malícia atrevi<strong>da</strong> para impor a seu mari<strong>do</strong> censuras<br />

de seu delito, pois com fugir manifesta que o temeu e temen<strong>do</strong>-o mostra que

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!