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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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238 Padre Mateus Ribeiro<br />

Lucin<strong>da</strong>, queren<strong>do</strong> encobrir o escan<strong>da</strong>loso <strong>do</strong> insulto com o disfarce mourisco,<br />

como se pudera estar muito tempo oculto tão execrável delito. Não é justo que<br />

em terra de um empera<strong>do</strong>r tão católico e em um reino governa<strong>do</strong> por um<br />

príncipe tão justo como vossa excelência se permitam tais desaforos e que por<br />

Juliano se criar na casa de vossa excelência, de quem pudera aprender to<strong>da</strong> a<br />

modéstia, tomasse motivos para tão grande ousadia. Quem poderá viver de<br />

hoje em diante seguro se um tão odioso atrevimento se não refrear com o mais<br />

exemplar castigo? Man<strong>do</strong>u Júlio Bruto degolar seu próprio filho na praça de<br />

Roma por intentar introduzir nela a Tarquino; e o cônsul Tito Mânlio, não menos<br />

severo, man<strong>do</strong>u degolar a seu filho, com ser vence<strong>do</strong>r na batalha que deu aos<br />

latinos, por haver peleja<strong>do</strong> contra a obediência que devia a suas ordens. E<br />

Mazeu, capitão <strong>do</strong>s cartagineses, man<strong>do</strong>u matar a seu próprio filho Cartallo,<br />

por lhe sair a falar fora <strong>do</strong>s muros de Cartago com gala de festa, quan<strong>do</strong> o pai<br />

com muitos <strong>do</strong>s principais cartagineses an<strong>da</strong>va desterra<strong>do</strong> <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de. Pois se<br />

na justiça não teve lugar o amor paternal para suspender o rigor, nem para<br />

impedir o castigo, confio eu <strong>da</strong> inteireza e valor de vossa excelência, não<br />

deixará em o atrevi<strong>do</strong> Juliano um crime tão escan<strong>da</strong>loso sem a pena mereci<strong>da</strong>;<br />

para que nele tomem exemplo os arroja<strong>do</strong>s a não profanar a casa de pessoas<br />

ilustres e guar<strong>da</strong>r o decoro que se deve às <strong>do</strong>nzelas de tantas pren<strong>da</strong>s e<br />

virtude como Lucin<strong>da</strong>, a quem vossa excelência tem tanta obrigação de<br />

amparar e defender, assim por quem é, como pelo cargo e lugar em que está<br />

posto.<br />

Admira<strong>do</strong> ouviu o vice-rei as justas queixas de meu pai, e prometen<strong>do</strong>-<br />

Ihe fazer em Juliano (se em tal mal<strong>da</strong>de o achasse compreendi<strong>do</strong>) um tal<br />

castigo que desse em to<strong>da</strong> a Europa maior bra<strong>do</strong> <strong>do</strong> que fosse a voz<br />

publica<strong>do</strong>ra de seu delito, e man<strong>do</strong>u logo que to<strong>da</strong>s as galés que no porto<br />

estavam fossem em seguimento <strong>da</strong> que fugira. Na capitania <strong>da</strong>s quais se<br />

embarcou meu pai, leva<strong>do</strong> <strong>da</strong> <strong>do</strong>r <strong>do</strong> agravo e estimula<strong>do</strong> <strong>do</strong>s vingativos<br />

desejos <strong>da</strong> satisfação que dele pertendia. E como té este tempo minha prisão<br />

ignorasse, deixan<strong>do</strong> uma carta escrita a minha mãe, e em que a consolava e<br />

dizen<strong>do</strong>-lhe se embarcava a procurar sua filha, e encomen<strong>da</strong>n<strong>do</strong>-me a mim<br />

que com to<strong>do</strong> o cui<strong>da</strong><strong>do</strong> lhe assistisse, seriam dez horas <strong>da</strong> manhã quan<strong>do</strong> as<br />

galés largaram as velas e ao maior impulso <strong>do</strong>s remos foram cortan<strong>do</strong> as

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