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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte III 445<br />

embora para jamais ver-te, que em terras estranhas ausente de teus olhos irei<br />

buscar o valimento que na própria me falta, ou de to<strong>do</strong> perderei a vi<strong>da</strong>, se vi<strong>da</strong><br />

tem que perder quem em perder-te de vista perdeu tu<strong>do</strong>.<br />

Assim falou o magoa<strong>do</strong> Reginal<strong>do</strong>, acompanhan<strong>do</strong> os olhos suas vozes,<br />

que não é desmaio <strong>do</strong> valor derramar lágrimas de senti<strong>do</strong>, quan<strong>do</strong> sabia<br />

aventurar a vi<strong>da</strong> muitas vezes sem chorá-la. Partiu-se para as praias <strong>do</strong> mar<br />

por ver se descobria alguma embarcação em que passar-se a Veneza e <strong>da</strong>í<br />

embarcar-se para onde o guiasse sua ventura, se ventura segue quem por<br />

paixão se guia. Não se descobriu no mar vela alguma; mas quan<strong>do</strong> achou um<br />

triste cousa que desejasse? Chegava-se a noite e retirou-se ao tosco <strong>do</strong>micílio<br />

de um roche<strong>do</strong>, que <strong>da</strong>s on<strong>da</strong>s cava<strong>do</strong> devia ao cristal mais que ao ferro a<br />

grande brecha que se tinha aberto em suas entranhas, aonde o deixaremos<br />

hospe<strong>da</strong><strong>do</strong> de seus pesares, que é a companhia mais certa de um aflito, para<br />

tratarmos de Flora.<br />

Cap. XII.<br />

Como Flora fez prender a Reginal<strong>do</strong> e como depois se ausentou de casa de<br />

seu pai com ele<br />

Pensativa mais que irosa se retirou Flora <strong>da</strong> presença de seu queixoso<br />

amante e porventura ia sentin<strong>do</strong> os ecos de suas senti<strong>da</strong>s palavras,<br />

competin<strong>do</strong> em seu peito o grave com o amoroso. É razão de esta<strong>do</strong> <strong>da</strong><br />

fermosura mostrar-se soberana e <strong>da</strong> fi<strong>da</strong>lguia ostentar-se respeitosa, e assim<br />

suposto que o interior não se <strong>da</strong>va por agrava<strong>do</strong>, representou nos exteriores<br />

demonstrações de ofendi<strong>do</strong>. Não duvi<strong>do</strong> que fosse pesarosa <strong>da</strong> pena com que<br />

a Reginal<strong>do</strong> deixava, mas disfarçou-a no rigor, por não <strong>da</strong>r indícios de<br />

arrependi<strong>da</strong>. Chegaram a casa e achou-se menos Reginal<strong>do</strong>, o que to<strong>do</strong>s<br />

sentiram; esperaram que ao outro dia viesse, mas ven<strong>do</strong> que faltava,<br />

man<strong>da</strong>n<strong>do</strong> alguns cria<strong>do</strong>s a ver se o descobriam, entrou um deles dizen<strong>do</strong> que<br />

uns pesca<strong>do</strong>res lhe haviam dito o viram no marítimo <strong>da</strong> costa procuran<strong>do</strong> se se<br />

descobria embarcação alguma em que passar-se a Veneza. Aqui foi em to<strong>do</strong>s<br />

admiração <strong>da</strong> novi<strong>da</strong>de, que como se ignorava a causa, não podia deixar de

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