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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte V 785<br />

desconheci<strong>da</strong>s, entrasse neste sítio tão oculto que mais que bosque representa<br />

labirinto de arvore<strong>do</strong>: ouvi as queixas de vosso esposo e vossas desculpas<br />

bem ajusta<strong>da</strong>s, suposto que mal recebi<strong>da</strong>s. Ultimamente desviei o executivo de<br />

seu furor em vos livrar a vi<strong>da</strong>, agora importa tratar de assegurar o feito com<br />

levar-vos onde ordenardes, parte conveniente em que vos deis por segura: que<br />

eu já que me empenhei em defender-vos, empenharei minha própria vi<strong>da</strong>,<br />

expon<strong>do</strong>-a a to<strong>do</strong> o risco, por assegurar a vossa.<br />

- Se nas palavras (respondeu Lívia) pudera desempenhar-se meu justo<br />

agradecimento ao favor recebi<strong>do</strong>, ficara limita<strong>da</strong> to<strong>da</strong> a erudição para<br />

reconhecer a obrigação que vos devo; porém pagar-vos-á Deus, senhor<br />

Lisar<strong>do</strong>, o pie<strong>do</strong>so desta obra em que com tanto valor socorrestes a esta<br />

infelice, quan<strong>do</strong> só o Céu que vos guiou pudera amparar minha inocência tão<br />

injustamente persegui<strong>da</strong>. São as aflições de meu coração tais que para<br />

discursar me perturbam os senti<strong>do</strong>s, que mal pode ter livre o discurso quem<br />

tem a alma tão ansia<strong>da</strong>.<br />

Eu, como sou órfã, perden<strong>do</strong> a meus pais no melhor <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, não tenho<br />

irmãos que de mim se compadeçam, não tenho hoje em Bolonha de quem me<br />

possa valer, sen<strong>do</strong> nela tão poderoso Roberto, meu tirano esposo. Procurar<br />

socorro de Teodósio, esse inquieta<strong>do</strong>r de minha vi<strong>da</strong> e injusto perturba<strong>do</strong>r de<br />

meu sossego, seria <strong>da</strong>r prova às calúnias de Roberto e fazer-me culpa<strong>da</strong>,<br />

quan<strong>do</strong> estou inocente, ven<strong>do</strong> que me defendia quem meu esposo tem por<br />

delinquente em seu agravo. Julgai vós agora, como mais entendi<strong>do</strong>, o que nisto<br />

devo fazer; e pois emprendestes meu remédio com o valor de quem sois, não<br />

me falte o pie<strong>do</strong>so de vossa nobreza em ocasião tão digna de vosso amparo e<br />

de minha compaixão. Principiar o bem e não segui-lo não é empresa <strong>da</strong><br />

generosi<strong>da</strong>de, antes será mostrar ou arrependimento de o haver emprendi<strong>do</strong><br />

ou falta de valor para cabalmente aperfeiçoá-lo.<br />

Que importará, senhor Lisar<strong>do</strong>, que a vi<strong>da</strong> me amparásseis, se me<br />

deixardes com o risco de perdê-la? A compaixão tem por objecto a ânsia e o<br />

amparo a necessi<strong>da</strong>de. Sou moça órfã, aflita, persegui<strong>da</strong> injustamente,<br />

desampara<strong>da</strong> de socorro, desfavoreci<strong>da</strong> <strong>da</strong> ventura em lugar tão solitário, sem<br />

mais refúgio que minhas lágrimas, pois se não dá crédito a minha inocência;<br />

pois aonde pode empregar-se melhor a comiseração de vosso peito e o valor<br />

de vosso ânimo que em segurardes uma vi<strong>da</strong> de tantas penas combati<strong>da</strong>, de

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