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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte III 421<br />

Atento ouviu Alberto a petição que lhe fazia e respondeu assim:<br />

- Obrigação minha era, senhor Felizar<strong>do</strong>, oferecer-vos eu a companhia,<br />

pois a senhora Amatilde se serviu de hospe<strong>da</strong>r-se nesta casa, se bem não<br />

igual ao que ela merece e eu desejo. Discretamente vos mostrais temeroso:<br />

que venturas grandes trazem as desconfianças por companheiras, nunca se<br />

<strong>da</strong>n<strong>do</strong> por seguro para descui<strong>da</strong>r-se o que se estima em muito para possuir-se,<br />

mas estai certo que não hei-de faltar em servir-vos, empenhan<strong>do</strong> este pouco<br />

que valer meu desejo em assistir-vos e acompanhar-vos, pois neste <strong>do</strong>mínio <strong>da</strong><br />

senhoria de Veneza algum respeito se me guar<strong>da</strong>. E porque vos pode o sereno<br />

<strong>da</strong> noite ser nocivo por estares ain<strong>da</strong> convalescente, vos recolhei a pousar,<br />

pon<strong>do</strong> à parte os cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s sobre minha promessa.<br />

recolhemos.<br />

Rendi-lhe as devi<strong>da</strong>s graças <strong>da</strong> mercê que me fazia e com isto nos<br />

Que importa, senhores, a cautela a quem tem pouca ventura se muitas<br />

vezes os meios que solicita para assegurar-se são os mesmos instrumentos de<br />

sua ruína? Quem havia de prever com o juízo que, recean<strong>do</strong>-me eu de Dom<br />

Cláudio, de Alberto me havia de resultar a ofensa, valen<strong>do</strong>-me eu de seu favor<br />

contra o agravo que temia? Risco grande leva consigo a fermosura, estímulos<br />

a ambição e precipícios o amor. São as leis <strong>do</strong> hospício tão sagra<strong>da</strong>s e<br />

invioláveis que por Paris, príncipe de Tróia, as haver quebra<strong>do</strong> no injusto roubo<br />

de Helena, incitou to<strong>da</strong> Grécia a que tantos anos lhe continuasse o aperta<strong>do</strong><br />

sítio até converterem a troiana monarquia em cinzas. O empera<strong>do</strong>r Aureliano<br />

man<strong>do</strong>u esquartejar ata<strong>do</strong> a duas árvores violentamente inclina<strong>da</strong>s a um<br />

sol<strong>da</strong><strong>do</strong> por haver força<strong>do</strong> a mulher <strong>do</strong> patrão aonde estava aloja<strong>do</strong>, violan<strong>do</strong><br />

os foros e imuni<strong>da</strong>des <strong>do</strong> hospício de que em sua casa o recebia. Lá disse<br />

Homero 414 que era cousa inumana ofender ao hóspede, nem ain<strong>da</strong> com<br />

importuná-lo; porque sen<strong>do</strong> a hospitali<strong>da</strong>de prova em que a humil<strong>da</strong>de se<br />

mostra, tu<strong>do</strong> fica sen<strong>do</strong> desumano quanto contra ela se dirige.<br />

Não duvi<strong>do</strong> que Alberto como ajuiza<strong>do</strong> assim o entendesse, porém que<br />

importa conhecer o bem quem persuadi<strong>do</strong> de suas paixões se resolve a seguir<br />

o mal? Era Alberto rico nos bens, ilustre no sangue, mancebo na i<strong>da</strong>de,<br />

distraí<strong>do</strong> na vi<strong>da</strong>, respeita<strong>do</strong> de to<strong>do</strong>s, de uns por liberal e de outros por<br />

4 Homer., Odyss. lib. 9.

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