17.04.2013 Views

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte II 233<br />

Nápoles aviso <strong>do</strong> desafio, man<strong>do</strong>u o vice-rei a to<strong>da</strong> a pressa um auditor <strong>da</strong><br />

corte bem acompanha<strong>do</strong> de gente, que chegan<strong>do</strong> ao lugar nos requereram <strong>da</strong><br />

parte d'el-rei que nos tivéssemos, encaran<strong>do</strong> em nós as espingar<strong>da</strong>s para que<br />

não resistíssemos. Estava Alexandre tão colérico de ver que não conseguira na<br />

morte de Dionísio a vingança total de seu agravo, e que com a prisão agora de<br />

novo se impedia, que chegan<strong>do</strong>-se um <strong>do</strong>s ministros <strong>da</strong> justiça para prendê-lo,<br />

ele cego <strong>da</strong> ira, não consideran<strong>do</strong> o que fazia, lhe correu a espa<strong>da</strong> <strong>da</strong>n<strong>do</strong>-lhe<br />

pelo peito uma estoca<strong>da</strong> perigosa, caiu em terra pedin<strong>do</strong> confissão; e o auditor,<br />

ofendi<strong>do</strong> <strong>da</strong> resistência e pouco respeito que se lhe guar<strong>da</strong>va, sem guar<strong>da</strong>r<br />

isenções <strong>da</strong> fi<strong>da</strong>lguia que se deviam à quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s pessoas, privan<strong>do</strong>-nos<br />

<strong>da</strong>s armas nos levou presos, buscan<strong>do</strong> só na quinta que estava mais vizinha<br />

uma liteira em que ia o genovês e o ministro, por serem de perigo as feri<strong>da</strong>s e<br />

não estarem capazes de ir a pé perto de meia légua de caminho que a ci<strong>da</strong>de<br />

de Nápoles distava <strong>do</strong> lugar.<br />

Cap. IV.<br />

Do que sucedeu em Nápoles e a notícia que se teve <strong>do</strong> roubo de Lucin<strong>da</strong><br />

Confusos caminhávamos os quatro prisioneiros entre o silêncio <strong>da</strong> noite<br />

e o estron<strong>do</strong>so <strong>da</strong> justiça, que como os que nos acompanhavam eram muitos e<br />

bem arma<strong>do</strong>s, por to<strong>do</strong>s os lugares que passávamos, sain<strong>do</strong> a gente a saber o<br />

que era, se divulgava a fama; e como esta, como disse Cícero, refere as<br />

cousas em suma, mas não a ordem delas, fica penden<strong>do</strong> <strong>da</strong>s opiniões e<br />

pareceres <strong>do</strong> vulgo o luzi<strong>do</strong> ou desairoso <strong>da</strong>s acções, enquanto o dia <strong>da</strong><br />

ver<strong>da</strong>de, desterran<strong>do</strong> as sombras de que as vestiu o primeiro rumor na<br />

apreensão <strong>do</strong>s ouvintes, não apura o merecimento delas.<br />

É sempre o povo o primeiro juiz que sentenceia as cousas pelo que<br />

ouve, e só tem sua sentença apelação para o tribunal <strong>do</strong> desengano quan<strong>do</strong> se<br />

qualifica o que é. Facilmente, diz S. Jerónimo, se apaga um rumor quan<strong>do</strong> a<br />

falsi<strong>da</strong>de o produz, bem como a exalação que apenas se vê quan<strong>do</strong> se apaga,<br />

que como a matéria de que se forma é tão ténue bem poderá correr, mas não<br />

durar. Isto digo pela varie<strong>da</strong>de <strong>do</strong>s juízos que sobre nossa prisão corriam;

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!