17.04.2013 Views

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

456 Padre Mateus Ribeiro<br />

celebravam to<strong>do</strong> o seu cui<strong>da</strong><strong>do</strong> e desvelo era alcançarem, sen<strong>do</strong> vence<strong>do</strong>res,<br />

uma coroa de rama que o tempo murcha e não ouro e pedras preciosas que o<br />

mun<strong>do</strong> estima. Justamente se queixava o monarca tarde arrependi<strong>do</strong> de que<br />

mal aconselha<strong>do</strong> nesta guerra, nem achava rendi<strong>do</strong>s para a veneração, nem<br />

conseguia despojos para compensar os dispêndios.<br />

Daqui venho a inferir que assim as vitórias <strong>da</strong>s letras como <strong>da</strong>s armas<br />

tanto tem de aplaudi<strong>da</strong>s, quanto tem os venci<strong>do</strong>s nelas de estimação. Era eu a<br />

este tempo de dezoito anos de i<strong>da</strong>de, quan<strong>do</strong> se pôs comigo à pública disputa<br />

de Retórica, Fábulas e Humani<strong>da</strong>des <strong>do</strong>s livros históricos e poéticos um ilustre<br />

mancebo <strong>da</strong> mesma ci<strong>da</strong>de, <strong>da</strong> família <strong>do</strong>s Spínola, que se chamava Valentino<br />

Spínola, mancebo de pouco mais <strong>da</strong> minha i<strong>da</strong>de, grande estu<strong>da</strong>nte, muito rico<br />

e de to<strong>do</strong>s estima<strong>do</strong>, não só pelo que era, mas pelo muito que pela fama de<br />

seus estu<strong>do</strong>s merecia. Havia de ser pública a disputa, os juízes dela escolhi<strong>do</strong>s<br />

pela fama de suas letras e inteireza de seu juízo, que haviam de <strong>da</strong>r o prémio<br />

pelo merecimento <strong>da</strong> justiça e não por respeitos <strong>do</strong> favor. Era o prémio<br />

precioso no valor, mas muito mais em ser prémio, pois, como diz Cícero 446 , não<br />

há ânimo tão despreza<strong>do</strong>r <strong>da</strong>s honras <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> que a remuneração <strong>do</strong> louvor<br />

que adquire não deseje; e Cassio<strong>do</strong>ro 447 ensina que os prémios públicos que<br />

se dão aos merecimentos são os alimentos com que se criam as virtudes, que<br />

muitas vezes sem eles desmaiam e desalenta<strong>do</strong>s se retiram.<br />

Concorreu a este desfio literário o mais lustroso <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, procedeu-se<br />

às disputas, ostentou ca<strong>da</strong> um o que sabia e por fim <strong>da</strong> conten<strong>da</strong> se me julgou<br />

o prémio. Ressentiu-se Valentino de se ver de mim preferi<strong>do</strong> e com os victores<br />

que me <strong>da</strong>vam menos airoso; quis censurar aos juízes de menos rectos no que<br />

julgaram; empenharam-se seus parentes em defender o que dizia e os meus<br />

em sustentarem a razão e justiça com que o prémio se me <strong>da</strong>va, chegan<strong>do</strong> a<br />

controvérsia a termos que <strong>da</strong>s letras se passou às armas; e como os Spínolas<br />

não eram <strong>do</strong> nosso ban<strong>do</strong>, antes <strong>do</strong> contrário, lembran<strong>do</strong>-se ca<strong>da</strong> qual de seus<br />

antigos desgostos (feri<strong>da</strong>s velhas e mal cura<strong>da</strong>s que facilmente renovam),<br />

resultou <strong>da</strong> pendência ficarem de uma e outra parte muitos feri<strong>do</strong>s e um <strong>do</strong>s<br />

Cicer., in Tuscul.<br />

Cassiod., Lib. 4.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!