17.04.2013 Views

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte III 425<br />

porque me acompanha valor para defendê-la de quem intentar contra meu<br />

gosto alcançá-la, que bem conheço que em ninguém se dá igual<strong>da</strong>de para<br />

merecê-la. Do insigne pintor Zêuxis se conta que depois de haver adquiri<strong>do</strong><br />

grandes riquezas pela delicadeza <strong>da</strong> pintura, as obras mais célebres que fazia<br />

de graça e sem preço algum as <strong>da</strong>va, dizen<strong>do</strong> que as <strong>da</strong>va sem preço porque<br />

não havia preço que igualá-las pudesse. Assim não haven<strong>do</strong> quem a senhora<br />

Amatilde dignamente mereça, justo parece que pois a tenho em minha casa,<br />

nela fique, que é ser ingrato à ventura quem deixa passar as ocasiões quan<strong>do</strong><br />

lhas oferece. Ela não pode ser esposa de Dom Cláudio pelo parentesco que<br />

tem com seu pai, o marquês defunto; nem é justo que o seja de Felizar<strong>do</strong>,<br />

porque se ela o não admitiu por esposo quan<strong>do</strong> lavra<strong>do</strong>ra, menos condiz que<br />

com ele se case quan<strong>do</strong> marquesa; e se outra cousa disse, seria por estar em<br />

sua casa e contra seu gosto; em mim granjeia esposo como to<strong>do</strong>s ilustre e<br />

mais que to<strong>do</strong>s rico; e quan<strong>do</strong> o duque de Módena não aprove o casamento,<br />

eu nem sou seu vassalo para obedecer-lhe, nem vivo em terras suas para<br />

sentir nem castigo que me dê, nem ren<strong>da</strong>s que me tire, e tem a senhora<br />

Amatilde, quan<strong>do</strong> não logre o esta<strong>do</strong> que seu pai lhe deixa e se lhe deve, tem<br />

meu esta<strong>do</strong> muito em que viver como senhora, que eu não a escolho por<br />

mulher pelo que ain<strong>da</strong> não logra, senão pelo muito que me agra<strong>da</strong>; por ser filha<br />

de quem é e não pelo que espera possuir. Ninguém se queixe de minha<br />

resolução, porque nela ninguém tem poder mais que seu gosto, e fio eu de seu<br />

juízo que saberá estimar o muito que lhe quero e o pouco que perde em ficar<br />

comigo.<br />

Assim falou Alberto, deixan<strong>do</strong>-nos admira<strong>do</strong>s tão repentina e não<br />

prevista resolução. Emudeceu-nos o susto para responder, e mais quan<strong>do</strong><br />

vimos a Amatilde tão pouco turba<strong>da</strong>, que quasi indicava ser já desta resolução<br />

participante; porque o rosa<strong>do</strong> de seu rosto nem mu<strong>do</strong>u a cor de que a <strong>do</strong>tou a<br />

natureza, nem mostrou o menor sobressalto, nem tratou de replicar ao menos<br />

por desmentir minhas suspeitas de ser ela cúmplice na mu<strong>da</strong>nça; antes com<br />

notável sossego, como se não entendera a Alberto, perseverou na mesma<br />

quietação que antes mostrava. Olhava Dom Cláudio para mim e eu para ele,<br />

esperan<strong>do</strong> ca<strong>da</strong> qual quem responderia sequer para desafogar o sentimento<br />

com a queixa, pois bem se considerava que seria impossível remediar o <strong>da</strong>no;<br />

mas como queixas sem fruto dão pouco alívio, nenhum se resolvia a romper o

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!