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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte III 547<br />

desluzi<strong>do</strong> triunfo para aplaudir-se. Pois resistin<strong>do</strong> às finezas de quem te<br />

amava, sujeitaste o bizarro às riquezas de quem te pertendia. Deu-me o<br />

amor as asas para aspirar ao voo de merecer-te: outrem sem voar levará<br />

as glórias e eu voan<strong>do</strong> ficarei só com as penas. Bem conce<strong>do</strong> que o<br />

sujeito é mais altivo, mas não mais amante: fui o primeiro em amar e o<br />

segun<strong>do</strong> em nascer. Adiantou a ventura a quem te agra<strong>do</strong>u mais para<br />

possuir-te e não a quem se desvelou mais para querer-te. Estava em ti<br />

violenta<strong>da</strong> minha esperança; e assim não é maravilha que caísse, pois<br />

tu<strong>do</strong> o que está fora de seu centro não pode prometer perseverança.<br />

Trocou a fortuna as mãos para meu <strong>da</strong>no, pois saran<strong>do</strong> a teu esposo <strong>da</strong><br />

mortal feri<strong>da</strong>, a mim ma deu mortal em tua mu<strong>da</strong>nça. Ele restaurou a vi<strong>da</strong><br />

para ganhar-te e eu perderei a vi<strong>da</strong> com perder-te. Sempre me pareceu<br />

que pudesse obrigar-te minha firmeza; mas como eras mudável de<br />

condição, não duvi<strong>do</strong> julgasses por agravo o que podia estimar-se por<br />

serviço. Porventura te agra<strong>da</strong>ra mais a ser mudável <strong>do</strong> que pude obrigar-<br />

te sen<strong>do</strong> firme. Deixas-me queixoso, quan<strong>do</strong> puderas obriga<strong>do</strong>: arbítrio <strong>da</strong><br />

ingratidão, fazer-se sur<strong>da</strong> às queixas, quem se resolve a não pagar a<br />

dívi<strong>da</strong>. Não espero de ti que te arrepen<strong>da</strong>s, que não cabe arrependimento<br />

em quem não conhece o <strong>da</strong>no. Mas se há vinganças no amor, teme, que<br />

pode <strong>da</strong>r-te o castigo <strong>da</strong> tirania que usas. Pois se há sentimento para<br />

atormentar aos tristes, também há pesares para castigar aos contentes.<br />

Isto continha a carta para Jacinta; que haven<strong>do</strong>-a entregue a quem<br />

seguramente a levasse para lhe ser <strong>da</strong><strong>da</strong>, me despedi de Justiniano, para em<br />

Ravena lhe solicitar to<strong>do</strong> o valimento possível sobre a liber<strong>da</strong>de de seu pai e<br />

desembaraço <strong>do</strong> sequestro <strong>do</strong>s bens de seu sogro. Porque como as partes<br />

eram tão poderosas, tu<strong>do</strong> estava bem dificultoso.<br />

Saí <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de de Lucca, quan<strong>do</strong> o morga<strong>do</strong> <strong>da</strong>s luzes com seus raios<br />

broslava de <strong>do</strong>ura<strong>do</strong>s matizes quanto a noite vestiu de negro luto de suas<br />

sombras. Passei junto ao lago Vientino, e já sobre a tarde cheguei à ci<strong>da</strong>de de<br />

Pistoia, em cujo dilata<strong>do</strong> território foi a batalha de Catilina Romano, quan<strong>do</strong> foi<br />

venci<strong>do</strong>, morto e desbarata<strong>do</strong> o exército de seus rebeldes sol<strong>da</strong><strong>do</strong>s contra a<br />

pátria. Nesta ci<strong>da</strong>de se me ofereceu chegarem uns genoveses ricos à pousa<strong>da</strong><br />

em que estava, e convi<strong>da</strong>n<strong>do</strong>-me se queria jogar, por divertir algum espaço de

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