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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte IV 701<br />

seu pai, irmãos e parentes com a justiça, fui pelo cavalo que em terra estava e<br />

pelos ditos <strong>do</strong>s cria<strong>do</strong>s conheci<strong>do</strong> eu por mata<strong>do</strong>r; e <strong>da</strong>n<strong>do</strong> a justiça nas casas<br />

de meu pai e meu cunha<strong>do</strong>, depois de muitas diligências que fizeram por<br />

descobrir-me, a requerimento <strong>da</strong>s partes prenderam a meu pai e Salviano, meu<br />

cunha<strong>do</strong>, pon<strong>do</strong>-os em aperta<strong>da</strong> prisão até exactamente se tirar a devassa <strong>do</strong><br />

homicídio: na qual se procedeu com tal rigor que, sen<strong>do</strong> tão casual e<br />

inopina<strong>da</strong>, como tenho dito, quiseram fazê-la de propósito, a fim de arruinarem<br />

a to<strong>do</strong>s.<br />

Deu motivos a esta presumi<strong>da</strong> culpa estar meu pai havia dias quebra<strong>do</strong><br />

com Pompeu Malatesta, sobre razões de seu cargo, e meu cunha<strong>do</strong> Salviano<br />

haver ti<strong>do</strong> havia já alguns meses certas palavras ásperas com o defunto; e<br />

sobre tão fracos fun<strong>da</strong>mentos, levantou o poder <strong>da</strong>s partes e o rigor <strong>da</strong> Justiça<br />

tantos edifícios de imagina<strong>da</strong>s presunções que, fazen<strong>do</strong> aperta<strong>do</strong> sequestro<br />

nas fazen<strong>da</strong>s, meu pai na prisão acabou a vi<strong>da</strong>, fican<strong>do</strong> minha mãe pobre,<br />

retira<strong>da</strong> em casa de minha irmã, e meu cunha<strong>do</strong> saiu desterra<strong>do</strong> de Perúsia<br />

por alguns anos, retiran<strong>do</strong>-se com sua casa a viver na vila de Toscanela,<br />

aonde tinha situa<strong>da</strong> muita parte de suas ren<strong>da</strong>s, <strong>da</strong>s quais muitas se<br />

diminuíram neste infortuna<strong>do</strong> sucesso que referi.<br />

Parti-me eu na própria noite com tanta pressa que nem de meus pais<br />

pude despedir-me, apartan<strong>do</strong>-me <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de o mais que o cavalo permitia,<br />

discursan<strong>do</strong> aonde havia de terminar-se meu retiro; e depois de vários dias de<br />

jorna<strong>da</strong>, vim parar à populosa ci<strong>da</strong>de de Pádua, <strong>do</strong> senhorio de Veneza,<br />

situa<strong>da</strong> poucas léguas distante <strong>do</strong> mar Adriático, aonde há uma <strong>da</strong>s três<br />

insignes universi<strong>da</strong>des gerais que fun<strong>do</strong>u o invicto empera<strong>do</strong>r Carlos Magno<br />

em sua vi<strong>da</strong>, que são as de Paris, de Bolonha e de Pádua.<br />

Comecei a continuar nela o Direito Civil que em Perúsia começara com<br />

diferente gosto, em tempo de minhas bonanças, avisan<strong>do</strong> por cartas a meu<br />

cunha<strong>do</strong> Salviano para que de lá me socorressem, ignoran<strong>do</strong> os apertos em<br />

que eles se viam, não temen<strong>do</strong> que seguissem os passos de minha fortuna no<br />

calamitoso, pois os não tinham segui<strong>do</strong> no culpável. Não se verificou aquilo<br />

que escreveu Plutarco 592 , quan<strong>do</strong> disse que a fortuna não causava as<br />

felici<strong>da</strong>des sem primeiro fazer liga com as culpas; pois estan<strong>do</strong> meu pai e<br />

592 Plut., De curiosit & De bello sanit.

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