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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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774 Padre Mateus Ribeiro<br />

notícia de Silvério Albertino, possa ele persuadir-se que teve o libidinoso em<br />

mim tão decoroso respeito à fi<strong>da</strong>lguia e que na lisonja de meus anos pôde<br />

vencer a moléstia os combates <strong>do</strong> apetite? Quem facilmente crerá que sen<strong>do</strong><br />

meu amor tão grande e a senhora Florisela tão bela, pesasse mais meu<br />

pun<strong>do</strong>nor que meu desejo? E que ten<strong>do</strong>-a em minha casa a respeitasse como<br />

irmã, queren<strong>do</strong>-lhe como amante? Sem dúvi<strong>da</strong> poria escrúpulos à ver<strong>da</strong>de o<br />

subi<strong>do</strong> desta fineza! E mais quan<strong>do</strong> estava de permeio o desengano de estar a<br />

outro prometi<strong>da</strong> por esposa, poden<strong>do</strong> provocar-me o repeti<strong>do</strong> <strong>do</strong> desprezo ao<br />

incentivo <strong>da</strong> vingança.<br />

Presente está a senhora Florisela como abona<strong>da</strong> testemunha desta<br />

ver<strong>da</strong>de, o senhor Antíoco e estas cria<strong>da</strong>s, sen<strong>do</strong> que minha ver<strong>da</strong>de era<br />

bastante abono <strong>do</strong> que manifesto. Agora, senhora Ricar<strong>da</strong>, em vossa escolha<br />

fica o fazer-me venturoso, se merecer ser esposo <strong>da</strong> senhora Florisela; porque<br />

ain<strong>da</strong> que empenhasse o cui<strong>da</strong><strong>do</strong> em Silvério, a quem queria por esposo, bem<br />

fio eu de sua discrição e fi<strong>da</strong>lguia que se não soube estimar-me quan<strong>do</strong><br />

amante, saberá estimar-me quan<strong>do</strong> esposo.<br />

Assi falou Feliciano, sen<strong>do</strong> ouvintes de sua prática em Ricar<strong>da</strong> e<br />

Florisela mais os olhos pelas lágrimas que derramavam <strong>do</strong> que os ouvi<strong>do</strong>s<br />

pelas palavras que ouviam; que como se representava a trágica memória de<br />

suas penas, mal se ouvia a relação sem os olhos testemunharem a <strong>do</strong>r que a<br />

repetição comovia. Depois de alguma suspensão em que os olhos choran<strong>do</strong><br />

responderam, pon<strong>do</strong>-os em Feliciano, lhe disse assi minha mãe:<br />

- Ofendi<strong>da</strong> e obriga<strong>da</strong>, agrava<strong>da</strong> e agradeci<strong>da</strong>, não alcanço, senhor<br />

Feliciano, como possa responder-vos, quan<strong>do</strong> a <strong>do</strong>r me impede a obrigação e<br />

a fineza se encontra com a ofensa. O não sentir o agravo seria ser insensível,<br />

faltan<strong>do</strong> ao justo <strong>da</strong> queixa, e o não agradecer o benefício seria ingratidão,<br />

faltan<strong>do</strong> às razões <strong>do</strong> conhecimento no justo <strong>da</strong> obrigação; e postos em<br />

balança tão contrários respeitos, o que posso agradecer pesa menos e o que<br />

devo sentir pesa mais. Sen<strong>do</strong> tão escan<strong>da</strong>losa a culpa que cometestes contra<br />

a imuni<strong>da</strong>de decorosa desta casa tão ilustre, como vós bem sabeis, em<br />

entrardes nela pelo jardim ao maior silêncio <strong>da</strong> noite a roubar-me minha filha<br />

Florisela, insulto tão detestável, pretendeis agradecimento de vosso próprio<br />

delito, porque levan<strong>do</strong>-a desmaia<strong>da</strong> a vossa casa, não vos despenhastes a<br />

mais? Assi como sobre a cor negra nenhuma outra cor pode assentar-se,

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