17.04.2013 Views

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte V 801<br />

inocente? Aos réus juridicamente condena<strong>do</strong>s à morte com a prova cabal de<br />

seu delito não os culpam de fugirem à execução, se em fazê-lo lhes foi<br />

favorável a ventura; porque ao temor <strong>da</strong> morte fugiu Macrino, sen<strong>do</strong> eleito<br />

empera<strong>do</strong>r e confirma<strong>do</strong> <strong>do</strong> sena<strong>do</strong>, segui<strong>do</strong> <strong>do</strong>s sol<strong>da</strong><strong>do</strong>s bandi<strong>do</strong>s por Hélio<br />

Gabalo, e cortan<strong>do</strong> a barba e mu<strong>da</strong>n<strong>do</strong> o traje por não ser conheci<strong>do</strong>, fugia<br />

temeroso: a morte que o seguia lhe servia de desculpa, e culpais que fugisse<br />

sem ter culpa quem, sem lhe provardes a ofensa, se via no perigo de vossa<br />

execução? Quem lhe assegurava que sairia eu vence<strong>do</strong>r de tantos que a<br />

buscavam tão bem arma<strong>do</strong>s e resolutos, e que, suposto que eu a defendesse,<br />

não pudesse ficar na empresa morto? Ou quem abonava depois de minha<br />

morte segurança à sua vi<strong>da</strong>?<br />

Sempre as cousas incertas causam dúvi<strong>da</strong>s à confiança. Nem o que<br />

muito se deseja dá seguranças de alcançar-se, porque a eficácia <strong>do</strong> desejo<br />

produz escrúpulos à certeza de possuir, nem o excessivo <strong>do</strong> temor permite<br />

tréguas aos combates de recear. Empera<strong>do</strong>r <strong>do</strong> romano império era Cláudio,<br />

porém tão temeroso de o poderem matar que não consentia que pessoa<br />

alguma entrasse em sua presença para falar-lhe sem que primeiro fosse visto<br />

com diligência e grande cui<strong>da</strong><strong>do</strong> se trazia algumas armas ocultas que<br />

pudessem causar receio à sua vi<strong>da</strong>, e com armas ninguém era admiti<strong>do</strong> a<br />

poder falar-lhe; e ten<strong>do</strong> consigo a guar<strong>da</strong> imperial para defender-se, ain<strong>da</strong> assi<br />

se não <strong>da</strong>va por seguro de seus temores. Pois que maravilha pode causar que<br />

vossa esposa, senhor Roberto, à vista de tantas armas fugisse, quan<strong>do</strong> em<br />

vossa presença tinha visto que sua inocência não era admiti<strong>da</strong> para seu abono,<br />

nem suas lágrimas poderosas para seu amparo?<br />

Tenho mostra<strong>do</strong> que nesta ocasião o fugir vossa esposa não é por se<br />

considerar culpa<strong>da</strong>, mas por natural temor mulheril, com que a morte de to<strong>do</strong>s<br />

faz temer-se, sen<strong>do</strong> ditame natural o defender a vi<strong>da</strong>, que, como diz<br />

Euripides 711 , sempre deseja sua conservação pelo que tem de amável; pois se<br />

para despedir-se <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> mal se desengana o decrépito <strong>do</strong>s anos e o inútil <strong>da</strong><br />

i<strong>da</strong>de, que fará a lisonja <strong>da</strong> moci<strong>da</strong>de, a flor <strong>do</strong> campo, a primavera <strong>do</strong>s anos,<br />

as primícias <strong>do</strong> século e o agra<strong>do</strong> <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>? Da qual, como diz Demóstenes 712 , é<br />

711 Eur., in Ale.<br />

712 Dem., in 01.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!