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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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438 Padre Mateus Ribeiro<br />

se revolviam em vales, que como eram fábricas fun<strong>da</strong><strong>da</strong>s no vento, não<br />

podiam permanecer mais que o mesmo ar que as sustentava com a deliciosa<br />

vista, assim <strong>do</strong>s horizontes <strong>do</strong> mar como <strong>da</strong> terra. Foram os peregrinos<br />

continuan<strong>do</strong> a jorna<strong>da</strong> até chegarem à antiga ci<strong>da</strong>de de Luceria, que ao<br />

presente se chama de Santa Maria: foi antigamente possuí<strong>da</strong> e habita<strong>da</strong> <strong>do</strong>s<br />

mouros que o empera<strong>do</strong>r Frederico II trouxe de África no tempo <strong>da</strong>s<br />

infortuna<strong>da</strong>s guerras que mal aconselha<strong>do</strong> em Itália fazia, como escreve<br />

Blon<strong>do</strong>; os quais mouros a possuíram alguns anos com notável <strong>da</strong>no <strong>do</strong>s<br />

campos e territórios vizinhos em que executavam continua<strong>da</strong>s hostili<strong>da</strong>des, até<br />

que à força de armas a ganhou e excluiu dela João Pepin, general <strong>do</strong> exército<br />

de Carlos II, conde de Proença e rei de Nápoles, que pon<strong>do</strong>-lhe aperta<strong>do</strong> sítio,<br />

com assaltos reforça<strong>do</strong>s a tomou à força de armas, passan<strong>do</strong> à espa<strong>da</strong> to<strong>do</strong>s<br />

os seus bárbaros defensores sem <strong>da</strong>r vi<strong>da</strong> a pessoa alguma. E porque esta tão<br />

insigne vitória se alcançou no dia felicíssimo <strong>da</strong> assunção <strong>da</strong> Rainha <strong>do</strong>s Anjos,<br />

lhe pôs nome de Luceria de Santa Maria, edifican<strong>do</strong> nela um templo sumptuoso<br />

dedica<strong>do</strong> a esta celestial Senhora.<br />

Seriam as dez horas <strong>do</strong> dia quan<strong>do</strong> os romeiros entraram na ci<strong>da</strong>de de<br />

Luceria de Santa Maria, que era na ocasião de uma <strong>da</strong>s duas feiras grandes<br />

que duas vezes no ano costumam nela fazer-se, a que se ajuntam merca<strong>do</strong>res<br />

de várias partes e províncias de Itália com grossas merca<strong>do</strong>rias de to<strong>do</strong> o<br />

género de drogas, por serem feiras de notável trato. Estavam quasi to<strong>da</strong>s as<br />

casas ocupa<strong>da</strong>s de forasteiros e os campos de ten<strong>da</strong>s, pelo que ven<strong>do</strong> os<br />

nossos romeiros a confusão de tanta gente para aí ficarem, se resolveram a<br />

passar adiante duas léguas e meia até à vila de Furunsola, para nela<br />

descansarem <strong>do</strong> caminho e se hospe<strong>da</strong>rem essa noite. Não é a vila grande<br />

nem muito povoa<strong>da</strong>, e só conheci<strong>da</strong> por nela morrer o empera<strong>do</strong>r Frederico II,<br />

odioso a to<strong>da</strong> a Itália e por sua soberba a to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong>: que sen<strong>do</strong> a soberba<br />

insolente origem de to<strong>do</strong>s os vícios, como lhe chamou Santo Anselmo, assim<br />

de to<strong>do</strong>s geralmente é um soberbo aborreci<strong>do</strong>.<br />

Quatro horas <strong>da</strong> tarde seriam quan<strong>do</strong> os romeiros entraram na vila de<br />

Furunsola. Foi Felizar<strong>do</strong> conheci<strong>do</strong> de um sacer<strong>do</strong>te que aí morava e com ele<br />

tinha estu<strong>da</strong><strong>do</strong> em a universi<strong>da</strong>de de Bolonha, o qual o recebeu com grande<br />

alegria e a seus companheiros, hospe<strong>da</strong>n<strong>do</strong>-os em sua casa com to<strong>da</strong> a<br />

liberali<strong>da</strong>de, porque era franco de condição e bem afazen<strong>da</strong><strong>do</strong> na vila.

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