17.04.2013 Views

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

708 Padre Mateus Ribeiro<br />

Que crédito <strong>do</strong> valor ou que desempenho de alenta<strong>do</strong>s adquiris com me<br />

matardes? Indecorosa empresa é para sol<strong>da</strong><strong>do</strong>s e desluzi<strong>da</strong> facção para<br />

destemi<strong>do</strong>s; e bem se mostra, pois o incidente vos obriga a encobrirdes os<br />

rostos para não serdes conheci<strong>do</strong>s. Compadecem-se os leões <strong>da</strong> fragili<strong>da</strong>de<br />

mulheril, vestin<strong>do</strong>-se <strong>da</strong> compaixão e despojan<strong>do</strong>-se <strong>da</strong>s armas <strong>da</strong> fereza; e<br />

vós arrancais as armas para ofenderdes a uma mulher de quem nunca fostes<br />

ofendi<strong>do</strong>s? Se a necessi<strong>da</strong>de vos move, eu lhe <strong>da</strong>rei remédio. Se o furor,<br />

apague-se no mar de minhas lágrimas. Se vingança, não condiz com a<br />

inocência. Se desgraça, bem satisfeita está em minhas mágoas. Com a vi<strong>da</strong><br />

sempre poderei servir-vos, mas com minha morte nunca ficareis seguros:<br />

porque se na terra faltar o castigo <strong>da</strong> justiça, não faltará no Céu para a<br />

vingança.<br />

A estas vozes e às muitas que as cria<strong>da</strong>s <strong>da</strong>vam, veio corren<strong>do</strong> de outro<br />

quarto <strong>da</strong>s casas o malogra<strong>do</strong> irmão <strong>da</strong> duquesa, com a espa<strong>da</strong> nua na mão,<br />

mancebo bizarro no mais vistoso <strong>da</strong> i<strong>da</strong>de; mas apenas saiu, quan<strong>do</strong> os<br />

desumanos mascara<strong>do</strong>s às estoca<strong>da</strong>s o mataram, cain<strong>do</strong> nos braços <strong>da</strong><br />

lastimosa irmã; a quem os truculentos foragi<strong>do</strong>s deram de punhala<strong>da</strong>s, sen<strong>do</strong> a<br />

primeira vez que a cruel<strong>da</strong>de não concedeu quartel ao raro <strong>da</strong> fermosura.<br />

Executa<strong>da</strong> a impie<strong>da</strong>de desta tão lamentável tragédia, fugiram os<br />

mascara<strong>do</strong>s verdugos sem haver quem a segui-los nem a reconhecê-los se<br />

atrevesse. Caiu morta a duquesa, mostran<strong>do</strong> que <strong>do</strong>s foros <strong>da</strong> morte não vive<br />

privilegia<strong>da</strong> a fermosura. Purpurizou com seu sangue o alcatifa<strong>do</strong> estra<strong>do</strong>,<br />

teatro fúnebre em que ela e seu malogra<strong>do</strong> irmão representaram tanto ao vivo<br />

as tragédias <strong>da</strong> mu<strong>da</strong>nça <strong>da</strong> humana vi<strong>da</strong>. Rendeu-se Vitória aos triunfos <strong>da</strong><br />

morte, pois foi sempre <strong>da</strong> morte invencível o triunfo. Desmaiaram as rosas no<br />

jardim flori<strong>do</strong> de seu rosto, trocou-se a púrpura em luto, perdeu a neve os<br />

receios de parecer menos cândi<strong>da</strong> à vista de seus alvores vivos, informou o<br />

cadáver a gala que vestia, que com ser luto <strong>da</strong> viuvez, tu<strong>do</strong> nele parecia gala,<br />

pois <strong>da</strong>va quan<strong>do</strong> anima<strong>da</strong> privilégios de gala ao que era luto. Suspendeu-se o<br />

garbo de senti<strong>do</strong>, pois na duquesa só lograva a estimação os aplausos.<br />

Rompeu-se logo a triste nova pela ci<strong>da</strong>de: pouco espaço havia mister<br />

para divulgar-se, sen<strong>do</strong> triste. Porém quem poderá explicar a geral lástima que<br />

to<strong>do</strong>s os <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de sentiram? Que como a defunta duquesa era de to<strong>do</strong>s<br />

igualmente estima<strong>da</strong> que bem quista, de to<strong>do</strong>s em geral era chora<strong>da</strong>. O ilustre

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!