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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte VI 1027<br />

parecesse que tinha a aurora saí<strong>do</strong> antes de tempo, derraman<strong>do</strong> aljôfar sobre<br />

as mais belas rosas.<br />

Prometi fazer excessos em Cesena para que tu<strong>do</strong> lhe desse agra<strong>do</strong> em<br />

seu desejo, com que eu e Roberto nos despedimos e chegámos a sua casa<br />

sem acharmos encontro em que reparar pudéssemos. Deu-me Roberto de<br />

<strong>do</strong>us cavalos que tinha o mais ligeiro para a jorna<strong>da</strong>, com boas pistolas<br />

reforça<strong>da</strong>s nos coldres, carreguei a clavina com balas <strong>do</strong>bra<strong>da</strong>s, ofereceu-me<br />

to<strong>do</strong> o dinheiro que levar quisesse, o que eu não aceitei, porque para tão breve<br />

jorna<strong>da</strong> estava bastantemente provi<strong>do</strong>, e despedin<strong>do</strong>-me de Lívia, sua esposa,<br />

lhe pedi quisesse visitar a Fenisa e a sua mãe, o que ela me prometeu que<br />

faria e que as acompanharia quan<strong>do</strong> partissem para Cesena, pelos desejos<br />

grandes que tinha de ver a Florisela, minha irmã, a quem tanto estimavam suas<br />

memórias. A Roberto encomendei o segre<strong>do</strong> e o cui<strong>da</strong><strong>do</strong> <strong>da</strong> mu<strong>da</strong>nça de<br />

Frederico com sua casa.<br />

E com isto despedin<strong>do</strong>-me, montei no cavalo e me parti de Bolonha para<br />

a não tornar a ver em minha vi<strong>da</strong>. Serviram-me de companhia as contínuas<br />

sau<strong>da</strong>des que <strong>da</strong> vista de Fenisa levava, assistência penosa e socie<strong>da</strong>de<br />

onerosa para quem ama como eu a amava: martírio <strong>do</strong>s olhos que não vem o<br />

que a memória jamais cessa de representar ao desejo; impossível logro <strong>da</strong><br />

vista; batalha repeti<strong>da</strong> <strong>do</strong> coração que quer ter presente o objecto que o<br />

combate, o que as distância não permitem, cortan<strong>do</strong> a vi<strong>da</strong> ao remédio. Só me<br />

serviam de alívio no gravame desta ausência as esperanças de ver de assento<br />

em Cesena a Fenisa, que era o júbilo aplaudi<strong>do</strong>, o espírito vital que alentava<br />

meu coração e o centro em que só admitia descanso meu cui<strong>da</strong><strong>do</strong>; que a não<br />

a<strong>do</strong>çarem as esperanças, diz Cícero 1109 , o gravame <strong>da</strong>s moléstias e riscos<br />

presentes, mal se sofreriam as moléstias e perigos, sen<strong>do</strong> tão certos e o alívio<br />

<strong>da</strong>s esperanças duvi<strong>do</strong>so.<br />

Cap. XVI.<br />

Em que Lisar<strong>do</strong> refere o que lhe sucedeu no caminho de Cesena<br />

Cie, in Catil.

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