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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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68 A novela portuguesa no século XVII:<br />

para vali<strong>da</strong>r esta obra junto <strong>do</strong>s seus críticos, pois que "a virtude <strong>da</strong> Eutrapelia,<br />

que o Doutor Angélico louva e a Filosofia aprova, é precisa para que os tristes<br />

tenham algum alívio, os cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s algum retiro e a desigual<strong>da</strong>de <strong>da</strong> ro<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

fortuna alguma consolação de que tanto necessitam os beneméritos e<br />

fe//ces." 126<br />

Estamos pois perante uma obra de ficção narrativa que pretende conciliar<br />

o deleite proveniente <strong>da</strong> suavi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> leitura <strong>da</strong>s suas múltiplas histórias com<br />

um reitera<strong>do</strong> pen<strong>do</strong>r edificante. No entanto, porque o carácter "exemplar"<br />

destas novelas acaba por se tornar num tópico que ecoa nos diversos<br />

paratextos deste género narrativo, seja para legitimarem a sua obra e assim se<br />

porem a coberto de censuras, seja para estabelecer horizontes de expectativa<br />

que cativem os seus leitores, consequência <strong>do</strong> êxito <strong>da</strong>s Novelas ejemplares<br />

de Cervantes (1613) 127 , importa ressalvar, antes de mais, que esta função<br />

exemplar, "que seria o denomina<strong>do</strong>r comum <strong>da</strong>s obras incluí<strong>da</strong>s nesta<br />

categoria, nem sempre é evidente para o leitor." Ain<strong>da</strong> segun<strong>do</strong> as palavras de<br />

Maria Lucília Pires e de José Adriano de Carvalho, "Teremos assim que<br />

distinguir entre uma exemplari<strong>da</strong>de claramente aprendi<strong>da</strong> como tal pelo leitor e<br />

uma exemplari<strong>da</strong>de que, corresponden<strong>do</strong> embora a uma intencionali<strong>da</strong>de<br />

explicita<strong>da</strong> pelo autor, não deixa de constituir motivo de dúvi<strong>da</strong>s e<br />

interrogações para o leitor." 728<br />

Se o carácter exemplar destas novelas nem sempre é fácil de definir,<br />

importa então ponderar quais os recursos e as estratégias utiliza<strong>do</strong>s por<br />

Mateus Ribeiro para concretizar a exemplari<strong>da</strong>de que reivindica para a sua<br />

novela inaugural. Além <strong>da</strong>s referências conti<strong>da</strong>s nos prólogos <strong>da</strong>s diversas<br />

edições desta obra, tanto a cargo <strong>do</strong> autor como <strong>do</strong> editor, e <strong>do</strong>s pareceres que<br />

fun<strong>da</strong>mentam as licenças de impressão, a morali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> Alívio de tristes<br />

Mateus RIBEIRO, "Prólogo", Alivio de tristes e consolação de queixosos, Tomo I, Lisboa, na<br />

Oficina Ferreiriana, 1734.<br />

127 Visível de resto na explícita influência que exerceu ao nível <strong>do</strong>s próprios títulos de novelas<br />

de autores portugueses, veja-se o <strong>caso</strong> evidente <strong>da</strong>s Novelas Exemplares de Gaspar Pires<br />

Rebelo (1650).<br />

128 História Crítica <strong>da</strong> Literatura Portuguesa, dir. Carlos Reis, Lisboa, Ed. Verbo, 2001, Vol. Ill -<br />

Maneirismo e Barroco, p.345.

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